Os profissionais mais tradicionais ainda consideram os celulares “inimigos” da sala de aula, no entanto, muitos educadores e organizações tem percebido seu potencial. Em 2013 a Unesco publicou um guia com 10 recomendações para os governos desenvolverem políticas públicas que utilizem os celulares como recursos na sala de aula.
Esse guia foi apresentado na Mobile Learning Week, realizada em Paris, e teve como principal justificativa o fato de muitas instituições não saberem como utilizar essas novas tecnologias, apesar de a considerarem importantes. Foi no evento que os coordenadores da Unesco Brasil constataram que no país os professores possuem grande resistência ao uso dos aparelhos, pois eles próprios ainda não estão familiarizados com eles. Assim, definiram que o primeiro passo seria disseminar sua utilização na educação: tanto nos cursos presenciais, quanto nos realizados à distância, o que pode ser relativamente fácil, já que de acordo com estudo publicado pela GlobalWebIndex, dois em cada cinco jovens brasileiros com idades entre 16 e 24 anos já passam mais de 2 horas ao dia navegando na internet nesses aparelhos.
As vantagens que os celulares podem ter no ensino já vem sendo estudadas há um tempo. A mestre em Educação Adriane Higuchi pesquisou o tema em sua dissertação de mestrado, realizada pelo Mackenzie, acompanhando uma turma de 15 alunos de uma escola pública de Mogi das Cruzes (SP), com o objetivo de identificar como o uso do aparelho de celular pode motivar e auxiliar no aprendizado. Uma das cenas que registrou foi o envolvimento e colaboração dos alunos na sala de aula: a professora da classe não possuía habilidade no manuseio de computadores e outros eletrônicos, no entanto, para exemplificar a matéria sobre os conflitos religiosos na Irlanda do Norte teve a ideia de apresentar aos alunos uma música da banda irlandesa U2. Como não possuía a gravação da música, levou à classe somente a letra impressa. Os alunos se interessaram de imediato e foram incentivados pela professora a procurar a canção em seus celulares. A iniciativa teve ótimos resultados. A professora percebeu o envolvimento e engajamento dos estudantes, inclusive dos com maiores problemas de disciplina, e também se surpreendeu quando os celulares foram espontaneamente desligados, para que a aula prosseguisse sem distrações.
Para Rafael Sanchez, Diretor dos Polos de Apoio do Centro Universitário UNINTER nas cidades de Bauru, Lençóis Paulista e Pederneiras, situações como esta tendem a se tornar cada vez mais comum, já que os celulares apresentam muitas possibilidades, como a “ampliação dos suportes de pesquisa e velocidade”. O diretor ressalta que antigos hábitos, como ir a bibliotecas e procurar por assuntos, página por página, nos livros, estão sendo modificados: “hoje só é necessário um clique e pronto, a grande maioria das informações estão disponíveis”, conta. De acordo com Adriane essa característica é reforçada pelo fato da nova geração de alunos, criada no ambiente digital, impor uma nova cultura, que altera o modo como a sociedade e os indivíduos interagem.
Característica também percebida pela professora de informática Tania Knittel, que leciona em uma escola particular de São Paulo. “Não há como fugir, em todas as matérias é possível utilizar esses aparelhos dentro da programação da aula, o que faz com que os laboratórios se tornem obsoletos”. Ela acredita que devido ao contexto digital atual, no futuro, o laboratório de informática desaparecerá.
Tania também realiza um mestrado sobre a utilização de dispositivos móveis dentro da sala de aula e destaca que na pesquisa realizada com os alunos o que mais surpreendeu foi o fato de eles próprios terem consciência dos pontos negativos e positivos dos aparelhos. Acompanhou turmas do 9º ano ao 3º colegial, elencando certas competências que deveriam ser desenvolvidas pelo uso dos celulares na sala de aula. As atividades envolviam linguagem de códigos em português, espanhol e inglês, como a criação de um áudio em inglês para um vídeo sem som, assistido pelo celular, e a montagem de uma história em quadrinhos em espanhol.
Durante as atividades os próprios alunos sugeriam aplicativos e metodologias para usar os aparelhos na aula. A ideia era incluir o aluno: “perguntamos para os alunos como gostariam de usar os celulares. Foram citados vários pontos, desde agenda para anotar atividade, até elaboração de texto, vídeo, entre outros”.
Entretanto, durante o período em que acompanhou os alunos percebeu que muitos classificavam o uso do celular como distrativo, pois recebiam muitas mensagens e tinham acesso as redes sociais, o que fazia com que durante as aulas, após o uso do dispositivo nas atividades, os alunos o colocassem no modo avião.
Mesmo com aspectos negativos, como o destacado pelos alunos na pesquisa realizada por Tania, a acessibilidade dos celulares é um dos principais atrativos do dispositivo quando pensa-se em educação. Rafael pontua que os inúmeros recursos que possui, como áudio, vídeo e outros aplicativos, o tornam um facilitador. Além disso, “a mobilidade é um grande diferencial, o que tem colaborado para que sua presença na sala de aula seja cada vez mais frequente, tanto no EAD como no ensino presencial”.
Entretanto, de acordo com a Mestre em educação Adriane, para que seu uso seja efetivo é preciso inserir a tecnologia dentro de um contexto, com objetivos e metodologias específicas. Para o diretor Rafael esse é um dos principais desafios: “como o usuário tem acesso a tudo, é muito fácil se desconcentrar e entrar em sites de variedades ou redes sociais. Isso pode tirar o foco da atividade proposta e diminuir os resultados esperados”. Dessa maneira, a recomendação é que os professores sejam treinados, de preferência, usando tecnologias móveis. Somente com esse treinamento é possível criar estratégias pedagógicas que unem tecnologia à educação: “uma das estratégias é alternar o uso dos dispositivos com interações ‘off-line’, tanto na EaD, quanto na presencial. Assim, aproveita-se o que o celular tem de melhor, que é a facilidade de acesso e pesquisa, evitando-se a perda do foco”.
Regras
Apesar da Unesco também aconselhar a criação de políticas de uso ligadas ao aprendizado móvel, para Rafael não é preciso criar regras. Ele acredita que isso só se aplica em atividades específicas. “Por esse motivo é muito importante o planejamento antecipado da aula e do momento que os dispositivos poderão ser utilizados”, diz.
Tania destaca que se a atividade for interessante “o próprio aluno se posiciona, não é preciso ter normas. Você não vai se distrair com outros recursos”, diz. Ela também complementa que desde que seja combinado com o aluno o uso do dispositivo, não há problemas, “o aluno segue a orientação combinada com o professor”.
O grande número de recursos e aplicativos nos celulares também podem se tornar uma ótima ferramenta para o professor: Tania acredita que esses canais possibilitam a discussão e debate sobre os conteúdos. Além disso, “muitos alunos tem utilizado os aplicativos para criar grupos de estudos, onde trocam áudio, arquivos e informações”.
O que ainda constitui um ponto limitador é o acesso à internet. “No Brasil a internet ainda não é 100%, eu tenho 4G, mas na maioria das vezes a conexão não funciona”, exemplifica a professora. Rafael também destaca a carência de algumas regiões do país. “Mesmo dentro do estado de São Paulo, não existem opções para a população contratar uma internet de banda larga, o que interfere na visualização de vídeos com grande potencial educativo”, diz.
Veja abaixo outras recomendações da Unesco para a utilização de dispositivos móveis dentro da escola:
Fonte: http://cloud-ead.programmers.com.br/blog/o-potencial-educativo-dos-celulares-na-educacao/
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