quinta-feira, 14 de maio de 2015

A maior sala de aula do mundo

Por Henrique Koifman  

Em 2004, o analista de investimentos norte-americano Salman Khan, então com 28 anos, resolveu dar aulas de apoio a uma prima adolescente que tinha dificuldades em matemática. Como moravam em cidades diferentes, Salman decidiu criar um sistema com o qual pudesse dar as explicações para sua aluna pela internet e desenvolveu uma plataforma simples e barata, com exercícios de matemática e vídeos curtos em que, usando uma tela como quadro-negro e sem aparecer em cena, apresenta os conteúdos de maneira clara e informal. Para isso, pesquisou tudo o que pôde sobre educação a distância e, por conseguinte, sobre ensino.

Publicadas no Youtube, as videoaulas acabaram transformando-se em um fenômeno mundial, sendo usadas por centenas de milhares de estudantes. Passados nove anos, Salman Khan dedica-se exclusivamente ao ensino por meio da Khan Academy. Com cerca de 5.000 videoaulas e 100 mil exercícios de matemática em inglês no ar, ele conta hoje com uma estrutura profissional e mantém convênios com diversas instituições de ensino que utilizam suas ferramentas e seu conteúdo para apoiar professores e alunos dentro e fora das salas de aula. 

Nesta entrevista pelo Skype (ferramenta de bate-papo em voz e vídeo, em tempo real, pela internet), ele fala sobre educação e professores, abordando ainda a parceria entre sua academia e a Fundação Lemann, que financia a versão para o português da plataforma com exercícios e vídeoaulas. A nova plataforma da Khan Academy estará disponível gratuitamente para os estudantes e professores brasileiros, totalmente em português, a partir de janeiro de 2014 no endereço www.fundacaolemann.org.br/khan-portugues.

Em seu livro Um mundo, uma escola, você afirma que qualificar o tempo na escola é uma questão muito importante. Como a tecnologia pode ajudar a escola a fazer isso e também a ser mais criativa? 
O modelo que temos hoje no mundo para a educação é o mesmo utilizado no final do século XVIII, nos primeiros estágios da Revolução Industrial, um conceito empregado para produzir qualquer tipo de coisa em escala por um preço razoável, tal como nas fábricas. Formamos grupos de alunos que vão sendo conduzidos, juntos, por uma mesma trilha. Cada um deles tem duas semanas para aprender determinado conteúdo. Os que conseguirem aprender receberão conceito A; outros aprenderão razoavelmente bem e receberão B ou C, enquanto outros não vão dar a mínima para o conteúdo. Se aprenderem bem o conteúdo, terão “bom futuro”; se prosseguirem falhando, terão “mau futuro”.

É claro que, mesmo cem anos atrás, as pessoas já pensavam que o ideal seria que cada aluno tivesse uma instrução, uma formação mais personalizada. Se ele não entender o conteúdo, vamos explicar mais até que compreenda. Não faz sentido passar para a matéria seguinte se você mal compreendeu o assunto anterior. As pessoas sempre concordaram com essas ideias, mas simplesmente não havia um modo prático de adotar tal medida nas escolas, havendo 30 crianças em uma sala. Hoje, o que a tecnologia é particularmente boa em proporcionar é justamente localizar, ordenar e personalizar conteúdos e sistemas, facilitando a coordenação das informações. 

E como isso funciona na prática?
Com ferramentas como as da Khan Academy, podemos ter salas com 30 alunos, todos trabalhando em assuntos diferentes, mas sendo acompanhados, de modo que se tenha certeza de que assimilem os conceitos. É uma maneira de aprender que valoriza os alunos como seres humanos, por suas capacidades. Nessa nova realidade, cada um pode seguir em seu ritmo, dar passos de acordo com o tempo de que necessita para compreender. E, se você sabe algo que eu não sei, podemos falar durante a aula, o que raramente era permitido antes. Você pode me ajudar, eu posso ajudá-lo e o professor pode dar atenção especial a um ou dois alunos de cada vez, conforme suas necessidades. 

Dessa forma, podemos inverter as variáveis de uma equação problemática e resolvê-la de um modo bem melhor: se antes o tempo de aulas e o conteúdo eram valores fixos e o número de alunos que assimilava a matéria era variável, agora todos os alunos compreendem a matéria, e o que é varia é o tempo que cada um deles precisa para atingir essa compreensão. Assim não deixaremos ninguém para trás.

Como o conteúdo é apresentado aos alunos?
Na maioria das escolas, as salas de aula são o único espaço onde a informação é disseminada. O professor dá a aula, apresentando o conteúdo, e esta é a sua única chance de adquiri-lo. Então, as crianças ficam preocupadas em anotar tudo, pois sabem que, se não anotarem, provavelmente esquecerão o que foi explicado. Com os recursos atuais, não é preciso anotar ou ficar apreensivo para captar tudo naquele único momento, pois é possível ter acesso àquele conteúdo quantas vezes for preciso e quando quiser — basta acessá-lo para refrescar a memória. É como se o quadro-negro nunca fosse apagado. Você pode fazer seus exercícios em seu próprio tempo e em seu próprio ritmo. Sabe que vai conseguir aprender, e as aulas passam a servir para que você tenha instruções personalizadas de seu professor, para que você trabalhe com seus colegas e com o sistema, para que você avance no seu próprio tempo.

Como a tecnologia pode ajudar os professores a entender e acompanhar o ritmo de aprendizado de cada aluno?
Ainda hoje, com a Khan Academy, tenho alguns primos e amigos da família como alunos. Posso ir ao site à noite e, por meio de suas ferramentas, verificar o que eles estiveram estudando, por quanto tempo, como se saíram nos exercícios e quais são suas dificuldades. Com isso, posso mandar um e-mail ou telefonar para eles e oferecer ajuda nos tópicos em que demonstram maior dificuldade ou sugerir pesquisas e material que possam ajudá-los. Esse tipo de informação sobre a evolução dos alunos está permanentemente disponível para os professores, algo que nunca ocorreu antes. Em geral, a única informação que os professores têm em relação à compreensão de seus alunos durante as aulas é a fisionomia deles. Tentam deduzir como seus alunos estão recebendo aquele conteúdo, se estão ou não acompanhando como esperado, mas têm muito pouca informação para essa dedução.

Habitualmente, o que ocorre é que alguns estudantes estão captando a aula no ritmo esperado, outros podem estar ficando até impacientes, por pensar que avançam lentamente, e outros simplesmente ficam sem nada entender ou sem conseguir fixar-se no professor. No entanto, o professor só vai conseguir ter uma noção mais precisa sobre isso quando aplicar um teste, no qual os alunos se dividirão entre os que aprenderam tudo e tiraram A, aprenderam parcialmente, com B e C, ou não aprenderam nada ou quase nada. O ideal seria que quem não tivesse tirado um A merecesse uma atenção especial do professor para que pudesse entender e absorver o conteúdo que ficou faltando. Porém, o que ocorre no sistema atual é que, se você atinge o grau mínimo, um C, segue adiante. Seria ótimo se o professor pudesse saber com dias ou semanas de antecedência que aquele aluno está na trilha para tirar um C ou um D e, assim, dedicar mais de seu tempo ou mesmo indicar um colega de turma melhor naquele tópico para ajudá-lo a superar suas dificuldades e aprender o que está sendo ensinado.

Quais são as diferenças entre as salas de aulas tradicionais e o novo modelo que você propõe?
A sala de aula tradicional tem 30 carteiras, todas viradas na mesma direção; o professor tem um quadro no qual apresenta suas aulas e, às vezes, corrige e passa deveres de casa. Na nova sala de aula, as crianças passam parte do tempo trabalhando cada uma em seu próprio ritmo, resolvendo exercícios, estudando o conteúdo, mas não é uma forma de isolamento. Na verdade, é no modelo tradicional que elas ficam isoladas, sem poder falar com as outras, preocupadas apenas consigo mesmas e em tomar notas. Na sala que propomos, você trabalha nas matérias e ajuda os seus colegas. Se tem dúvidas, pede ajuda e alguém vem explicar. Os professores acompanham o processo e sabem quem são os alunos que precisam de maior atenção a cada momento, podendo sentar-se perto deles.

A internet e os computadores já não são mais novidade e fazem parte da vida de quase todos os jovens. Com os professores, no entanto, nem sempre é assim. Essa diferença geracional pode representar uma dificuldade para a adoção de novas ferramentas tecnológicas nas escolas?
É possível que, para alguns, a tecnologia seja mais difícil de assimilar, mas, de um modo geral, o que percebemos é que os professores abraçam a ideia com entusiasmo. Trabalhamos com um grande contingente de professores e, realmente, os mais jovens estão muito mais imersos e habituados com as novas tecnologias. Contudo, também trabalhamos com inúmeros professores muito experientes que conseguem adaptar-se rapidamente ao uso dessas tecnologias em suas salas de aula. Os mais experientes são justamente os que percebem, mais do quaisquer outros, a importância de permitir que seus alunos trabalhem com recursos e ambiente aos quais estão mais habituados, sentindo-se mais confortáveis e estimulados a trabalhar juntos. 

O conteúdo da Khan Academy está sendo todo vertido para o português e, com o apoio da Fundação Lemann, começou a ser usado em escolas no Brasil. Qual tem sido o feedback por parte dos professores e alunos brasileiros?  
Desde o início do projeto no Brasil, as informações que recebemos são bastante positivas. Sei que o projeto atinge uma grande quantidade de escolas. A partir de agora, vamos passar a receber mais informações e feedback do Brasil. Hoje o projeto Khan Academy nas escolas, com exercícios e videoaulas de matemática, atende mais de 10 mil alunos de escolas públicas nos estados de São Paulo, Ceará e Paraná. Irá expandir sua ações para 50 mil alunos em 2014, quando a plataforma com 100 mil exercícios de matemática e mais de mil vídeoaulas estará disponível em português, de graça, na internet.

Foi fácil encontrar parceiros aqui no Brasil?
Na verdade, foram eles que nos procuraram. A Fundação Lemann tem a educação em seu foco e, depois de conhecer o nosso trabalho pela internet, seu pessoal chegou à conclusão de que o que estávamos construindo aqui na Khan Academy era um bom caminho para solucionar algumas questões e atender a parte de seus objetivos. Seus membros nos procuraram há cerca de dois anos e, desde então, estamos trabalhando sempre muito próximos.

Você esteve no Brasil este ano para uma série de encontros. O que poderia dizer sobre a educação brasileira? 
Eu estive aí durante o verão, no período de férias, e não pude visitar escolas, mas tive a chance de me encontrar com o ministro [da Educação] e com muitos funcionários do governo. Fiquei impressionado com a disposição das pessoas, de todos os níveis e de diferentes setores da educação, para que o acesso à internet e à tecnologia seja ampliado rapidamente. Para elas, está claro que a tecnologia é um elemento crucial para que o ensino no Brasil chegue ao patamar desejado em um futuro mais próximo. Nesse sentido, o que eu vi no Brasil foi um desejo maior de avançar no campo da educação do que tenho encontrado em qualquer outro país, incluindo os Estados Unidos.

Já que falamos no assunto, a tecnologia associada à internet e aos computadores é hoje a que avança e muda com maior rapidez. O impacto dessas mudanças, que acontecem quase que diariamente, é uma preocupação em sua instituição? Como lidar com isso? 
Na verdade, as possibilidades e a velocidade das mudanças me empolgam muito mais do que preocupam, mas a tecnologia de fato muda constantemente, e contamos com um grupo de profissionais que pensa nisso o tempo todo. Afinal, temos uma plataforma baseada na internet! Como será esse ambiente em, digamos, 5 anos? Como acessaremos a internet e como serão os equipamentos que vamos usar para isso? Portanto, é algo com o que temos de nos preocupar, de pensar e trabalhar, mas que também é bastante estimulante. Por outro lado, os dispositivos mais sofisticados e caros que temos no mercado hoje provavelmente serão acessíveis a qualquer pessoa em 5 ou 10 anos; a internet, que hoje não é acessível a todos no mundo, provavelmente o será nesse mesmo prazo. A capacidade dos computadores será muito maior, a transmissão de dados por banda larga será infinitamente mais rápida. Nossas possibilidades só tendem a aumentar e melhorar.

E como serão as ferramentas virtuais para a educação do futuro?
Esta entrevista, que fazemos agora pelo Skype, seria algo impossível há 10 anos. Daqui a mais 10 anos, talvez possamos estar conversando como hologramas, projetados, como se estivéssemos na mesma sala. E isso pode ser muito interessante para se usar em educação. No caso da Khan Academy, espero que tenhamos mais conteúdo, com informações mais completas, que proporcionem uma experiência ainda mais estimulante para professores e alunos com atividades e simulações. É natural que passemos a oferecer nosso conteúdo em múltiplas plataformas, para dispositivos móveis os mais diversos e para o que mais surgir de interessante daqui para frente. 

Como professor, qual é, em sua opinião, o maior desafio para quem ensina?
Outro dia me encontrei com a representante de uma organização que envolve dezenas de professores aqui nos Estados Unidos e perguntei a ela: “O que diferencia os melhores professores dos demais?”. Ela comentou que muitas pessoas acreditam que os melhores professores são os que dão as aulas mais atraentes, mas que não é isso que diferencia um bom professor. Outras valorizam mais os profissionais que têm títulos, como o PhD, mas que também não é isso que faz os melhores professores. Para ela, os professores que realmente fazem com que seus alunos evoluam no conhecimento, que conseguem motivar e fazer com que os estudantes percebam que eles próprios devem assumir responsabilidades sobre si mesmos e sobre sua educação são os melhores. Assim, acredito que o grande desafio para os professores é saber como, entre todas as suas tarefas, criar tempo para poder estabelecer essas importantes conexões pessoais com os alunos a fim de exercer o importantíssimo papel de adulto na vida deles — às vezes, o papel do principal adulto — e ajudar a fazer com que os jovens acreditem em si mesmos, que se sintam capazes e motivados para realizar coisas e para que se sintam donos de seu destino.

O aluno que tiver em sua vida aquele professor que gire a chave em sua cabeça, que faça com que, no lugar de encarar a escola e o estudo como obrigação, entenda que adquirir conhecimento é fundamental para que ele venha a ter uma boa carreira, um bom futuro, estará sendo programado para os próximos 60 anos de sua vida. Este é o segredo de ensinar — e espero que estejamos desenvolvendo ferramentas que liberem mais tempo para que os professores possam se dedicar mais a essa conexão fundamental com seus alunos. 

Fonte: https://www.grupoa.com.br/revista-patio/artigo/9905/a-maior-sala-de-aula-do-mundo.aspx

A mudança nas formas de ensinar e aprender na era digital

Juan Ignacio Pozo & Carlos de Aldama  

Se o conhecimento não é um fim em si mesmo, mas o meio para construir competências nos alunos, as TICs são ferramentas extraordinariamente poderosas e um espaço para construir uma nova cultura de aprendizagem
Será que algo realmente mudou nas formas de ensinar e aprender na era digital? Essa é uma pergunta que nos fazemos com frequência todos os que nos preocupamos com a educação. Será que houve mudanças reais, substanciais, nas formas de ensinar e aprender em nossas salas de aula, em particular no ensino médio, como consequência do impacto das tecnologias da informação e da comunicação (TICs) na sociedade?

Quando perguntamos aos próprios docentes ou rastreamos os estudos a respeito realizados nas últimas décadas, a resposta pode ser ambígua, quando não contraditória. Encontramos desde os otimistas que apostam entusiasticamente no uso das TICs em sala de aula até aqueles que, ao contrário, mostram-se pessimistas e acreditam que a gestão da informação digital, por seu imediatismo, superficialidade e falta de reflexão, supõe um empobrecimento das formas de pensar e conhecer. E, finalmente, há os céticos que, ao analisar não o que deve ser, e sim o que realmente aconteceu até agora, observam que as TICs não tiveram quase nenhum impacto.

Na sequência, vamos rever brevemente cada uma dessas três posições (otimista, pessimista e cética) a fim de mostrar que elas podem ser visões complementares e que é possível conciliá-las em uma visão moderadamente otimista. Para isso, deveremos assumir boa parte dos argumentos pessimistas e céticos se realmente desejamos que as TICs tornem-se um meio para transformar, como parece necessário, as formas de ensinar e aprender em sala de aula, particularmente no ensino médio. 
O argumento otimista: o poder transformador das TICs
Há quem aposte entusiasticamente no papel transformador das TICs nas formas de ensinar e aprender. Essas pessoas apoiam-se na ideia de que a interação com tais tecnologias é muito atrativa para os adolescentes de hoje, verdadeiros nativos digitais, segundo a feliz expressão de Prensky (2001). Eles já naturalizaram o uso dessas tecnologias, que são mais sensíveis às necessidades do aluno. Dessa maneira, cresceram seu interesse e sua competência no uso da informação e do conhecimento. Os principais avanços introduzidos pelas TICs são apresentados a seguir (de Aldama, 2012; Coll e Monereo, 2008; Collins e Halverson, 2009).
  1. Adaptação ao aprendiz: a imensa quantidade de informação e recursos disponíveis na rede permite ao usuá­rio selecionar a informação que mais se ajusta aos seus interesses e necessidades, o que favorece a autorregulação e o controle da própria aprendizagem. É o aprendiz quem decide o quê, como e quando aprender.
  2. Interação: as TICs favorecem um cenário dialógico em que cada ação do aprendiz pode ser acompanhada de um feedback. Um bom uso dessas tecnologias permite ao usuário tomar consciência de seus próprios atos (função metacognitiva).
  3. Apoio: um dos problemas mais comuns no ensino tradicional é o aprendiz não ver sentido na tarefa, seja porque ela se situa muito abaixo ou muito acima de sua zona de desenvolvimento proximal. As TICs permitem oferecer as ajudas adequadas a cada aprendiz em cada momento.
  4. Jogos e simulação: as TICs permitem simular cenários de aprendizagem real, ao mesmo tempo em que reduzem as consequências negativas que poderiam advir nesse contexto. 
  5. Multimídia: graças às novas tecnologias, o conhecimento elaborado em sala de aula passa do formato impresso (próprio do ensino tradicional) para um formato multimídia, ampliando enormemente as modalidades de expressão e comunicação.
  6. Publicação: nas aulas tradicionais, os alunos consomem informação ou, no melhor dos casos, produzem algum conteúdo que será supervisionado apenas pelo docente. As TICs permitem mostrar criações próprias e originais a um público real. 

O argumento pessimista: as TICS empobrecem as formas de ensinar e aprender
De uma ótica completamente oposta à anterior, os pessimistas sustentam que a interação com a informação na era digital supõe um empobrecimento das formas de conhecer, na medida em que promove o imediatismo, a superficialidade e a falta de reflexão, como demonstram as conversas nas redes sociais (Carr, 2011). Existe algo realmente importante do ponto de vista do conhecimento que se possa dizer em um tweet, em 140 caracteres, pouco mais de 20 palavras (mais ou menos o que utilizamos para formular essa pergunta)? Nesse sentido, os argumentos essenciais a favor dessa posição estão listados a seguir (de Aldama, 2012; Carr, 2011, Collins e Halverson, 2009).
  1. Empobrecimento cognitivo na era digital: os alunos estão acostumando-se a um acesso imediato à informação, que não requer deles um processo de reflexão e construção pessoal. Além disso, é comum realizarem várias tarefas ao mesmo tempo, o que impede um processamento elaborado da informação.
  2. Gestão da sala aula: são frequentes as dificuldades na gestão da sala de aula com a introdução das TICs, devido à escassez de recursos (na absoluta maioria dos casos, os alunos são obrigados a compartilhar os computadores) e perda do controle sobre as tarefas que os alunos realizam. 
  3. Os computadores não podem ensinar tudo: as novas tecnologias proporcionam conteúdos, mas em nenhum caso chegarão a ensinar tudo o que é necessário. As aprendizagens sociais e atitudinais devem ser mediadas pelo docente.
  4. Autoridade e ensino: alguns docentes, acostumados a que sua autoridade repouse sobre os conhecimentos e sabedoria que compartilham com os alunos, sentem-se amea­çados ao constatar que as TICs estão cumprindo suas funções. Se antes o único conhecimento legítimo que emergia em uma sala de aula era aquele proporcionado pelo docente, hoje a informação e suas fontes multiplicam-se quase indefinidamente. Esses condicionantes supõem um desafio e um esforço redobrados para os docentes, que se veem forçados a modificar seus modelos de ensino e instrução.
     
O argumento cético: será que algo realmente mudou?
Por fim, podemos apontar uma terceira visão, mais cética ou incrédula, segundo a qual as mudanças não são nem positivas nem negativas, pois simplesmente não houve mudanças de fato: as formas de ensinar e aprender na era digital são as mesmas que sempre predominaram na escola, apenas se modificando o suporte quando as TICs são introduzidas em sala de aula (o que não é muito comum).
Esse argumento cético apoia-se em dados de pesquisas que indicam que os alunos, quando processam informações digitais, costumam ter dificuldade para converter essas informações em verdadeiro conhecimento (Pozo, 2002, 2004). Por exemplo, o Informe PISA-ERA 2009 mostra, ao contrário do argumento otimista, que a leitura digital dos adolescentes em muitos países — incluídos todos os da América Latina, entre os quais o Brasil — é pior que a sua leitura tradicional em papel. Listamos a seguir as deficiências que podem ser observadas (Coll e Monereo, 2008). 
  1. Estratégias de seleção das informações: os alunos não sabem buscar e selecionar as informações relevantes, deixando-se levar pelo próprio fluxo e formato em que se apresentam.
  2. Tradução da informação de um código a outro: os alunos têm dificuldade quando as informações são apresentadas em códigos diferentes (texto, imagens, etc.) e é necessário traduzi-las de um para outro.
  3. Integração de diferentes fontes e tipos de informação: para além da dificuldade de tradução, há problemas quando os alunos deparam-se com informações diversas ou contraditórias, como ocorre nos espaços virtuais, onde nunca se tem um saber consolidado e estabelecido.
  4. Tendência a reproduzir em vez de refletir sobre a informação encontrada: no melhor dos casos, quando se deparam com informações diversas, os alunos tendem a usar o “recortar e colar” em vez de procurar construir sua própria visão, integrando essas diversas posições. 
     
Para além do ceticismo: novos usos das TICs para mudar as salas de aula
Em suma, boa parte dos adolescentes nativos digitais tem uma alfabetização digital (sabe usar as TICs), mas não tem uma alfabetização digital que os habilite com as estratégias necessárias para transformar essa informação a que conseguem ter acesso — muitas vezes melhor que seus professores! — em conhecimento autêntico. Essa é uma demanda imprescindível para construir uma verdadeira sociedade do conhecimento, que requer uma nova cultura da aprendizagem (Pozo, 2002, 2004) — uma cultura que implica o uso das TICs não para reproduzir velhos hábitos de ensino e aprendizagem transmissivos, e sim para fomentar novas formas de aprender e ensinar em que o docente seja o mediador de um diálogo que transcenda a sala de aula para incorporar os novos espaços de conhecimento abertos pelas TICs. Concretamente, os modos de gerir a informação através das TICs deveriam ajudar a promover três mudanças essenciais nas formas de ensinar e aprender, tal como segue.
  1. A passagem de uma epistemologia realista centrada na transmissão de conhecimentos “verdadeiros”, consolidados, para uma gestão da incerteza, mais característica dos tempos atuais. Se, como disse Morin (1999), conhecer e saber hoje não é apropriar-se de verdades, mas sim gerir a incerteza própria destes tempos, as TICs devem ser uma ferramenta essencial para dotar a os alunos de competências para navegar nessa incerteza.
  2. A passagem de uma gestão unidirecional do conhecimento (monológica) para uma gestão multidirecional (dialógica). Devemos passar das salas de aula nas quais só se ouve a voz do conhecimento estabelecido na voz do  docente ou do livro de texto para um espaço dialógico, mas baseado em um diálogo muito diferente daquele do que se produz nas redes sociais. Aqui não se trata de trocar opiniões, e sim de construir argumentos e conhecimentos através de um diálogo mediado pelo docente. 
  3. A passagem de representações estáticas e proposicionais apoiadas em “ilustrações” para a integração dinâmica de múltiplos sistemas de representação. Diferentemente dos sistemas mais tradicionais, as TICs permitem àquele que interage com a informação que não apenas a receba, mas que também a transforme, que produza novas representações e conhecimentos compartilhados, baseados em múltiplos códigos distribuídos tanto no espaço quanto no tempo, o que nos aproxima da ideia do aprendiz como construtor do próprio conhecimento. Porém, sabemos que, para que essas mudanças ocorram, é necessário não apenas dispor desses recursos tecnológicos em sala de aula, que seria uma primeira barreira, mas também mudar a forma como professores e alunos concebem seu uso e suas funções — em suma, mudar suas mentalidades ou concepções de ensino e aprendizagem (Pozo et al., 2006; Pozo e Pérez Echeverría, 2001). De uma perspectiva tradicional ou direta, na qual a função da educação é transmitir aos alunos saberes estabelecidos, bem definidos, o impacto das TICs limita-se a mudar o suporte da prática docente em vez de transformá-la (de Aldama, 2012). Contudo, se acreditamos que o conhecimento não é um fim em si mesmo, mas o meio para construir competências nos alunos, para dotá-los de estratégias que convertam a informação em conhecimento, então as TICs constituem não apenas ferramentas extraordinariamente poderosas, mas também um novo espaço para construir uma nova cultura de aprendizagem em nossas salas de aula.
     
  • Juan Ignacio Pozo é professor de Psicologia da Aprendizagem na Faculdade de Psicologia da Universidade Autônoma de Madri (Espanha).
  • Carlos de Aldama é psicólogo e pesquisador na Faculdade de Psicologia da Universidade Autônoma de Madri (Espanha).
     
  • Fonte: https://www.grupoa.com.br/revista-patio/artigo/9903/a-mudanca-nas-formas-de-ensinar-e-aprender-na-era-digital.aspx

segunda-feira, 4 de maio de 2015

As dimensões perfeitas das redes sociais

As redes sociais são hoje certamente utilizadas por muitos de nós para partilhar com os nossos alunos.
Estas necessitam de se atualizar constantemente e essa atualização passa muitas vezes pela interface, resultando sempre na mexida das dimensões dos objetos que podemos mudar.
O blogue Mashable fez um post muito interessante com as dimensões das redes mais utilizadas: Facebook, Twitter, Instagram, Pinterest e Linkedin. Além das dimensões, apresentam também dicas sobre a publicação de alguns elementos.

Todas as fotos são da autoria de Vicky Leta do blogue Mashable











Fonte: http://theblogteacher.blogspot.com.br/2015/04/as-dimensoes-perfeitas-das-redes-sociais.html