Organizadoras: Lígia Sayão Lobato Coppetti & Rosane Lefebvre
A escrita
imortalizou o ser humano. Ou pelo menos suas memórias, suas representações,
seus medos, anseios e descobertas. A escrita de cada um de nós supera nosso
ínfimo tempo de permanência na Terra, espalha nossa voz para além dos muros de
nossas casas, para além das fronteiras de nossos países. E hoje mais do que em
qualquer outro tempo.
Nunca se
leu e escreveu tanto. Um pouco pela emergência das redes sociais e de novas
formas de comunicação escrita, como o Whatsapp
e o Facebook. Há também o fenômeno do
academicismo (que chegou com atraso no Brasil, mas chegou), e com ele um
efervescente meio acadêmico com Lattes a serem preenchidos, revistas abrindo
espaço a publicações, congressos e mais congressos, enfim, uma incessante troca
que aos poucos consolida-se e deixa de ser mera obrigação para que se obtenha
um diploma, transformando a produção acadêmicas em relevante repositório de
descobertas. O academicismo, então, quando despido do seu caráter ensimesmado e
arrogante é um grande trunfo da cultura escrita, levando a possibilidade de
refletir, produzir e divulgar conhecimento a todos, de forma ampla, irrestrita
e democrática.
Sob esse
ponto de vista, saúdo Caminhos da
linguagem: uma visão transdisciplinar II por entendê-lo não como uma
reunião de artigos de pessoas recém egressas de um curso de pós-graduação em
Letras, ávidas por registrar em papel – para além de seu tempo e espaço – o
resultado de suas pesquisas. A publicação desse SEGUNDO número de artigos
demonstra a vitalidade e o amadurecimento das autoras e autores aqui presentes
e também prova que eles não buscam apenas linhas no Lattes, e sim acreditam na
permanência de suas descobertas.
Dessa
forma, ao me referir aos artigos de cada autor não farei distinção entre
mestres, doutores ou doutorandos, alunos ou professores. Para nós, leitores,
são todos pesquisadores com algo a nos mostrar, a nos revelar. E se precisamos
dar um fio condutor aos textos aqui reunidos, para além de serem oriundos de um
produtivo, plural e eclético Programa de Mestrado e Doutorado em Letras, o da
UniRitter, podemos dizer que quase na totalidade eles abordam a linguagem
escrita, deixando revelar nas entrelinhas uma paixão e uma tentativa de
apreensão dessa linguagem que imortalizou o ser humano, permitindo a ele representar
o abstrato.
Sintomático
disso é a grande quantidade de textos que abordam o ensino-aprendizagem da
leitura, como “A leitura e o desencadeamento do processo de leitura, de Carolina Moojen, que aborda a
importância da interpretação dos signos e a dificuldade da sua incompreensão
para o processo de leitura, resgatando estratégias e reafirmando a importância
do conhecimento de mundo para a compreensão textual. E “Leitura e construção da
autonomia na infância: linguagem e pensamento infantil”, de Beatriz Medeiros da Costa, que
relaciona o desenvolvimento linguístico da criança com a capacidade de
interpretar e se desenvolver cognitivamente, demonstrando como o contato com
obras literárias ajuda a criar a autonomia.
Outros
artigos que também enfocam o ensino-aprendizagem, mas aí de uma língua
adquirida, são “Ensino-aprendizagem de uma língua adicional: múltiplos
processamentos”, de Maíra Barbarena de Mello, “Ensino-aprendizagem de
lingua(gem) e professor de LP como LA”, de Amelina Silveira, e “O trabalho
colaborativo no ensino-aprendizagem de inglês como língua adicional através da
perspectiva das comunidades de prática”, de Kathy Torma.
Maíra Barbarena de Mello analisa o
processo de ensino-aprendizagem de língua estrangeira entre alunos da Educação
Básica, enfocando tal processo nas interações em contexto institucional. Amelina Silveira apresenta uma análise
sobre o tema a partir de entrevistas de professores de português para
estrangeiros, enfocando nos materiais didáticos por eles utilizados. Kathy Torma aborda a construção da
aprendizagem através da participação situada que ocorre dentro das comunidades
de prática para a legitimação da participação periférica, partindo de uma nova
concepção de aprendizagem da socióloga e antropóloga Jean Lave e do professor
Etienne Wenger.
Os
materiais didáticos, foco da pesquisa de Amelina Silveira, também são objeto de
estudo dos artigos de Ana Paula da Cunha Sahagoff, Denúsia Moreira de Souza e
Leny Gomes. Ana Paula Sahagoff, em
“Reflexões sobre concepções de leitura: PCN e LD” trabalha com livros
didáticos, investigando se as propostas de leitura de tais livros estão de
acordo com as orientações dos Parâmetros Curriculares Nacionais de Língua
Portuguesa. Denúsia Souza e Leny Gomes,
em “Recursos eletrônicos digitais em livros didáticos de língua e literatura do
Ensino Médio”, propõem uma visão crítica sobre o uso de livros didáticos,
especificamente neste artigo investigando os sites indicados pelos livros
didáticos aos estudantes de literatura.
A
literatura é mote para o estudo de Martha
Costa Guterres Paz, que em “O simbolismo sonoro de Avalovara, de Osman Lins, sob a ótica da filosofia tântrica”
relaciona a filosofia tântrica com o romance de Osman Lins a partir das
percepções sonoras, propondo uma contraposição de opostos através de uma dança
rítmica que expressa a convivência inseparável entre o sagrado e o profano.
Outro tema
que se faz presente, como não poderia deixar de ser em um livro contemporâneo,
é a cultura digital. Ligia Sayão Lobato
Coppetti, em “A influência da interação na formação e expressão de
identidades em um ambiente virtual de aprendizagem”, parte da influência
específica da interação na formação e expressão das identidades de indivíduos
participantes de um ambiente virtual de aprendizagem, analisando especialmente
as postagens nos fóruns dos alunos e seus tutores. E Valéria Brisolara, em “Curtindo e compartilhando: autoria e espaço
digital”, retoma estudos sobre autoria de Barthes e Foucault, além de agregar o
recente trabalho de Séan Burke, para refletir sobre o espaço do autor em
ambientes digitais, especialmente nas redes sociais, onde se amplifica a
autoria coletiva e colaborativa.
O tema da
autoria, a propósito, é também a base para o artigo de Rosane Lefebvre, que em “Questões de autoria e estilo” parte do
texto de uma aluna de primeiro semestre intitulado “Quem sou eu?” para, a
partir do interacionismo sócio-discursivo, analisar marcas linguísticas de
subjetividade que se caracterizam como marcas de autoria.
Por outro
viés dos estudos de autoria, o da intertextualidade, é que se apresenta o
artigo de Manuel Cid Jardon, “A
intertextualidade na construção dos textos jurídicos”. Jardon recupera o
conceito de dialogismo de Bakhtin para demonstrar a importância do conceito de
intertextualidade, de Kristeva, para as tramas discursivas dos principais
gêneros textuais do Direito.
Também partindo
do texto jurídico, mas com abordagem distinta, Katiane Covatti e Silva Serpa, em “A participação popular na
criação da Lei da Ficha Limpa à luz da Análise Crítica do Discurso”, aplica
essa linha de análise do discurso para explorar a trajetória da Lei, observando
as relações de poder envolvidas.
E para
finalizar, um artigo que aborda outros tipos de linguagem além da textual,
propondo estratégias para que o profissional da voz empregue no processo de
comunicação interpessoal recursos da linguagem corporal, da linguagem oral, do
aprimoramento vocal e do domínio da oratória, “A versatilidade da linguagem
oral e as nuances para a comunicação humana”, de Miriam Teresinha Pinheiro da Silva.
Evidentemente
que os temas aqui abordados são diversos e complexos, não sendo pretensão das
autoras e autores, dos artigos e nem do livro esgotá-los. Que venham outros
livros como este, movimentando e dinamizando o academicismo para além de seu
estigma.
Lançamento dia 17 de junho as 18,30 hs na FNAC do Barra Shopping, Porto Alegre
Pré venda diretamente com os autores.
Informações: ligia.coppetti@gmail.com