João Luís de Almeida Machado
Fenômeno recente na educação brasileira, a utilização das moderníssimas mídias e recursos das Tecnologias de Informação e Comunicação (TICs) começa a criar alguns problemas nas universidades que nelas investiram pesado. Um desses sintomas é o surgimento da figura do Professor PowerPoint... Esse profissional realiza suas atividades docentes recorrendo insistentemente a utilização de computadores, datashow e apresentações de slides no formato consagrado através do programa da Microsoft que consta do pacote Office.
O PowerPoint dessa forma está se tornando protagonista principal das aulas desses docentes e, ao mesmo tempo, é o direcionador do raciocínio, das palavras e da articulação da aula... Nenhum problema maior existiria se esse uso fosse realizado concomitantemente a livros, revistas, jornais, trabalhos em grupo, seminários, filmes, músicas, pesquisas de campo,...
Aulas em que o professor não consegue fazer com que seus alunos o vejam como o personagem principal (ao lado dos próprios estudantes, diga-se de passagem, em sintonia com a idéia de que a conjunção de suas forças fomenta o ensino-aprendizagem e concretiza a construção do conhecimento), ou seja, como aquele que organiza o tema, demonstra conhecimento quanto ao mesmo, direciona as atividades, estrutura tarefas a serem realizadas durante e depois do encontro, explica os conceitos principais e também as idéias que dão suporte e apoio aos raciocínios direcionadores do tema que está sendo discutido – perdem a credibilidade e, como conseqüência disso, também os docentes acabam tendo suas imagens arranhadas perante os alunos.
A idéia corrente de que os estudantes têm consciência quanto aos professores com os quais trabalham no que tange a quem domina e quem ainda não tem plena segurança no exercício de sua função enquanto docente é verdadeira. É por isso que os alunos sempre se propõem a verdadeiramente “testar” as qualidades de seus professores quando se iniciam as aulas com perguntas e atitudes através das quais procuram os colocar em xeque...
Isso não quer dizer que tenhamos que ter respostas para tudo o que nos é perguntado. É sábio e pertinente o professor que perante questões relativamente às quais tem dúvidas ou desconhece o assunto assume que precisa pesquisar e ler mais...
A dor de cabeça nessa questão do uso (exagerado) das tecnologias não reside no recurso, mas na forma como utilizamos essas ferramentas... Há docentes que embarcam tão fortemente na onda das tecnologias que estão se esquecendo de consolidar suas bases acadêmicas na leitura dos livros recentes publicados em suas áreas ou nos clássicos desses segmentos.
Os computadores e a internet têm que ser utilizados com inteligência pedagógica.
E todo profissional que se preza, em especial na área da educação, onde há (ou deve haver) o comprometimento com a formação dos alunos e que, em especial, deve conter em seu âmago o compromisso fundamental de buscar sempre a qualidade nos serviços oferecidos – visando realmente trazer ao mundo pessoas mais éticas, profissionalmente muito bem preparadas, compromissadas com suas comunidades, zelosas em relação ao mundo em que vivem e dispostas a realmente fazer a diferença em suas áreas de atuação – tem que estar atualizado através de leituras (das melhores bases culturais disponíveis e também do mundo, das relações que trava com o que está ao seu redor).
A atualização nos jornais, revistas, publicações especializadas ou ainda em artigos e materiais acadêmicos é parte fundamental das buscas que os professores devem realizar para que seu trabalho tenha substância e proximidade com o que de mais recente está sendo debatido no planeta, tanto em sua área de especialização quanto em outros segmentos relacionados a ela.
Ler ao menos um jornal diário, procurar informações em periódicos especializados, atualizar-se com revistas semanais de informação ou com publicações segmentadas (sobre seu ramo de atuação, como filosofia, história, gastronomia, ciência, engenharia,...) e, principalmente, conhecer bem o acervo da biblioteca universitária em que atua ou da cidade em que reside não deve ser encarado pelos educadores como obrigação ou fardo, mas como prazer e fundamento profissional.
O Powerpoint é apenas uma das ferramentas que está sendo utilizada de forma errônea na educação, há também outros recursos como os buscadores (Google, Yahoo, AltaVista,...) – dos quais os estudantes e também os professores acabam abusando ao utilizarem, sem critério e leitura mais aprofundada, qualquer texto que seja a eles apresentado a partir de uma primeira pesquisa...
O uso da Internet como fonte de pesquisas é, aliás, controverso no mundo acadêmico. Enquanto há professores que estão incentivando o acesso e uso dos estudantes a rede mundial dos computadores e os governos municipais, estaduais e federal demonstram interesse e disposição de investir no surgimento de laboratórios de informática estruturados para que isso aconteça, há educadores que consideram esse uso pernicioso...
Nem tanto ao sol, nem tanto a lua... O uso desses recursos é parte do mundo em que vivemos já há pelo menos 10 ou 15 anos (com certeza mais tempo na Europa, nos Estados Unidos e no Japão) e não dá para pensar que num futuro próximo essas tecnologias sejam desativadas e que tudo volte a ser como há 20 ou 30 anos atrás. Digo sempre que posso, em aulas e palestras, que o progresso tecnológico que estamos vivendo é praticamente irreversível (a não ser que ocorra uma hecatombe nuclear que bloqueie e paralise todos os nossos meios e recursos em funcionamento nos condenando a viver novamente na Idade da Pedra).
Os caminhos da tecnologia passam pelo contato com a palavra, a capacidade de ler o mundo e de entender o contexto no qual estamos inseridos, nesse sentido os professores, a partir de sua experiência, devem orientar o encontro e o contato entre as novas gerações e a tecnologia.
Nesse sentido a nossa principal responsabilidade passa a ser analisar, estudar com profundidade, equacionar as possibilidades e verificar quais são os melhores usos e alternativas para a nossa relação com todas essas ferramentas e processos. Compreender para usufruir do que há de melhor na tecnologia é o caminho mais curto (se bem que não é tão curto e nem tampouco finito) para que computadores, internet e afins sejam muito mais úteis a todos do que atualmente tem sido...
A Internet é uma fonte de informações que não pode ser desprezada pelos educadores e, na verdade, cabe a eles o compromisso de entender e analisar o que está sendo oferecido na rede para que, depois dessa leitura feita por especialistas, os melhores sites e portais, mecanismos e softwares ofertados na Web, sejam sugeridos aos estudantes. Isso não quer dizer que aos alunos cabe apenas o papel de receptores da informação veiculada na Internet.
Pelo contrário, se considerarmos quem são as pessoas dessa geração, que nasceu com computadores dentro de casa ou nas escolas que freqüentam, sabemos que também a elas devemos dar a atribuição de “filtrar” a internet em busca de seus melhores subsídios e produções. Só que eles não têm o conhecimento e a experiência dos educadores com os quais tem contato em aulas e, por isso, aos professores compete orientar o olhar e fornecer elementos que permitam uma leitura crítica, analítica e fundamentada da Web.
Somente a título de exemplificação das possibilidades e dos descaminhos da Internet na educação...
A Wikipédia, celebrada mundialmente como a ferramenta que democratizou o saber e que está sendo construída por milhares de pessoas de todos os continentes, não é fonte consolidada e passível de utilização em trabalhos acadêmicos, seus erros e imprecisões fazem com que ela não tenha a acuidade e a fundamentação quanto aos dados que apresenta...
Por outro lado, os sites de instituições como o IBGE, o MEC, o IPEA ou a Fundação Getúlio Vargas, as informações disponibilizadas a partir de publicações científicas on-line (que podem ser pesquisadas, por exemplo, pelo Scielo ou através do site Periódicos – ligado ao Capes), as bases de dados de jornais e revistas que possuem credibilidade institucional ou portais e sites ligados a empreendimentos educacionais e de pesquisa (como as universidades e seus bancos de dados, ou o próprio Planeta Educação) – podem ser utilizados como referências em projetos, trabalhos e produções acadêmicas em geral.
Cabe a todos aqueles que estão inseridos no universo da educação, nesse momento, fazer valer a experiência e atuar com seriedade e maturidade na inserção das tecnologias na escola e na vida dessas e das futuras gerações de estudantes com os quais trabalhamos, para que seu uso seja dirigido com inteligência pedagógica e frutifique socialmente através de formandos que se insiram na sociedade sabendo exatamente como, porque, onde e com que finalidades essas tecnologias podem ser usadas em nossas existências...
Fonte: http://www.planetaeducacao.com.br/portal/artigo.asp?artigo=868