por Jéssika Torrezan
Sergio Amaral/Unesco
Guilherme Canela, assessor de comunicação e informação para o Mercosul e Chile da Unesco
Instituto Claro - Quando se fala em tecnologias de informação e comunicação, quais são os pontos fundamentais a serem discutidos?
Guilherme Canela - A primeira questão é reconhecer que essas ferramentas vieram para ficar. Ignorá-las seria uma atitude contraproducente para a inserção dos alunos em uma sociedade contemporânea. Do ponto de vista pragmático, a aplicação dela na sala de aula é inevitável. A discussão é por que e com que método essa tecnologia será inserida.
Instituto Claro - Quais são os principais desafios a serem vencidos na implantação destas tecnologias nas políticas públicas?
Canela - A questão que se coloca, seja qual for a plataforma ou o suporte, é para o que será usado, qual é a proposta pedagógica. Não há uma resposta definitiva, não podemos dizer se vai ser bom ou ruim porque dependerá da proposta na qual essas ferramentas estarão inseridas. Nesse sentido, é preciso observar algumas questões fundamentais.
Instituto Claro - E que questões são essas?
Canela - Uma delas é sobre o papel dos gestores educacionais no processo. Os governos, às vezes, negligenciam o papel e a importância da direção da escola em fazer essa política funcionar. Avaliações mostram que, quanto menos o diretor está envolvido, mais há a tendência de que o uso da tecnologia não funcione ou tenha menos resultados. A capacitação dos professores é outro ponto fundamental. Hoje ela já faz parte das políticas, mas precisamos repensar como ela é feita. A proposta tecnológica precisa ser entendida a partir de um novo viés, não basta apenas ensinar como mexer na máquina. É entender como essa nova ferramenta pode ajudar na proposta pedagógica e educacional, como o conteúdo pode ser diferente do que era ofertado em condições tradicionais.
Instituto Claro - É necessário, então, repensar a metodologia tradicional, aplicada há anos?
Canela - Sim. Estas políticas não podem ser pensadas apenas como “agora eu entrego um aparelho e pronto”. Como você capacita o professor para integrar essa tecnologia na sala de aula com uma proposta diferente? Porque ter um tablet onde o aluno vai escrever 2+2=4 não faz o menor sentido, você pode fazer isso na folha de pão, no caderno, desenhar com um tijolo no chão, não faz diferença. O que faz diferença é saber como podemos usar essa tecnologia como um diferencial para despertar o conhecimento que está ali, latente.
Instituto Claro - Como seria a capacitação ideal para tirar o melhor destas tecnologias?
Canela - Um dos problemas não só no Brasil, mas também em outros países, é que geralmente a capacitação é em serviço. O problema está na capacitação inicial dos professores [leia-se nas faculdades, nos cursos de pedagogia, nas escolas de educação]. Já existem pesquisas mostrando que é muito pequena a presença da tecnologia nas disciplinas, ou mesmo em horas-aula, na formação inicial. Por isso a capacitação em serviço vira uma coisa pouco sustentável, um “enxugar o gelo”: se o professor nunca teve um espaço de discussão aprofundado sobre a potencialidade das plataformas, é muito complicado que depois, em serviço, com todas as demandas que se colocam no dia a dia, isso seja feito da maneira que teria de ser.
Canela - A questão é que é sempre muito difícil de equacionar. A discussão é essa: que tipo de padrões você precisa, quais são os conhecimentos que se espera em diferentes estágios e para diferentes propostas para que o professor de fato possa levar uma discussão inovadora e de qualidade para os alunos? A Unesco desenvolveu uma discussão, depois transformada em documento, chamada “Padrões de Competência em TIC para Professores”, que aborda essas questões.
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