A principal diferença da educação a distância (EaD), em relação ao ensino presencial, está nos profissionais envolvidos em sua implementação. “A EaD proporciona uma multidisciplinaridade que nem sempre é encontrada no ensino tradicional”, afirma Luana Lorem, tutora-online que desde 2009 trabalha com EaD.
Isso acontece pois a composição das equipes envolvem diversos profissionais, de áreas distintas, como docentes, tutores e pessoal técnico-administrativo. Além disso, não existe padrão. As instituições compõe suas equipes de acordo com seu perfil. O que não muda é a exigência de que todos os profissionais sejam capacitados a atuarem na educação à distância.
Luana atua como tutora-online da Universidade Federal de Santa Catarina (UFSC). Ela explica que cada universidade possui seus critérios, quanto ao número de tutores e perfil dos professores, o que altera as equipes que atuam nos cursos. “Na UFSC por exemplo, existem cursos em que o próprio professor é o autor dos conteúdos, isso pode não acontecer em outros lugares”, fala.
Ela teve seu primeiro contato com a estrutura da EaD após participar de todas as etapas de implementação de um curso a distância. Na ocasião, foi convidada para fazer parte da equipe que seria responsável pela adaptação para o Brasil do projeto
EPICT, desenvolvido na Dinamarca – que na época já estava avançada na área. “A equipe era enxuta, tivemos que pensar em um novo ambiente virtual, pois o que utilizavam era defasado, além de adequar todo o conteúdo para os brasileiros”, conta.
Luana é tutora de EaD na UFSC e tem conhecimento amplo nos ambientes virtuais
Assim, acabou acompanhando toda a parte de elaboração da infraestrutura, a escolha e implementação do ambiente virtual, o layout, o atendimento às exigências do cliente, processo que durou 6 meses. O sucesso veio do trabalho em equipe.
Isso porque a educação online funciona por meio de interações, como se fosse uma rede. Os professores que elaboram o conteúdo devem estar em harmonia com os tutores, que orientam o conteúdo aos alunos, e com os programadores, que configuram o ambiente virtual. Sem esquecer dos coordenadores, que junto com a equipe pedagógica elaboram estratégias de ensino e os melhores recursos que devem ser utlizados. Todas as etapas dependem da participação desses profissionais e para fazer isso funcionar é preciso organizar. “Já trabalhei em outros lugares em que a infraestrutura já estava pronta, mas para implementar um curso de EaD é preciso planejamento”, fala Luana.
Além disso, os docentes possuem diversas formações, atuando em cursos variados. Um professor de matemática pode ser mediador da disciplina de filosofia, por exemplo. Tudo depende da função que exerce.
Luana é formada em letras e atua como tutora-online da disciplina de física. “Tem gente que é formado em biologia, geografia, a base dos tutores é a licenciatura”, todavia, a professora alerta que assumiu a disciplina pois tem habilitação em ensino a distância. “A disciplina de Cálculo I, por exemplo, é lecionada por um especialista”. A mesma situação acontece com o economista Roosevelt Guerra, que atua desde 2011 como tutor-presencial do curso de administração pública da Universidade Federal do Rio Grande do Norte (UFRN) realizado à distância pela Universidade Aberta do Brasil (UAB), em um dos pólos presenciais da cidade. No Poló Roosevelt “procura guiar o aluno a buscar outras fontes de informação”, “sugerimos outras explicações mais complexas, que exigem preaparo”, diz, muitas vezes além dos obtidos por sua formação acadêmica.
Capacitação
Apesar de ganhar espaço nos últimos anos, a EaD ainda apresenta dificuldades em capacitar e adaptar seus professores. De acordo com o Censo EAD Brasil 2012, a capacitação de pessoal está entre as áreas que apresentam mais investimentos, sendo prioridade para 18,5% das instituições, ficando atrás somente dos investimentos em criação de novos cursos e em tecnologias de inovação.
Roosevelt afirma que para se tornar tutor de EaD foi preciso desenvolver competências pedagógicas, já que o curso de administração pública costuma desenvolver grupos de estudo e de reflexão. Isso se aplica tanto para os tutores online, quanto para os presenciais.
As funções de Luana e Roosevelt apesar de semelhantes, possuem exigências distintas. O economista conta que o professor-presencial exerce uma função quase semelhante ao tutor a distância. “O tutor presencial é generalista, acompanha toda as disciplinas do curso, que no caso da UAB pode durar até 6 anos, prazo máximo para o aluno concluí-lo”.
Já Luana destaca que “o tutor-online é tutor da disciplina, ele é especialista e pode esclarecer dúvidas de conteúdo. O presencial fica mais responsável pela parte administrativa e gerencial, podendo também tirar dúvidas em alguns casos”.
Um ponto comum é a adaptação tecnológica. Os tutores devem utilizar os recursos do ambiente virtual, fazer gerenciamento e orientar os alunos a utilizarem as plataformas. “Algumas universidades usam os ambientes virtuais para tarefas síncronas, assíncronas, ou só como repositório”, pontua Luana, o que exige do professor habilidade para utilizar todos os recursos oferecidos.
Exigências
Os cursos de graduação e pós-graduação devem ter um número mínimo de encontros presenciais, segundo o Ministério da Educação (MEC), momento em que geralmente são aplicadas as provas. Por isso, são criados os pólos presenciais, que não são vinculados as universidades: as instituições privadas costumam franquear seus pólos, já as públicas tem seus pólos administrados pelas prefeituras. Nesse último caso são atendidos inúmeros cursos, de várias universidades espalhadas pelo país, que oferecem cursos a distância.
Aliás, os pólos presenciais constituem uma exigência do MEC, com número mínimo de alunos, laboratório e livros como requisito. Roosevelt destaca que, no caso da UFRN, os pólos presenciais possuem toda uma infraestrutura para os alunos, voltada para a apresentação de seminários e realização de avaliações.
Logo que as exigências entraram em vigor receberam críticas. Isso aconteceu devido a impossibilidade de cidades pequenas e isoladas montarem essa infrsestrutura para usufruirem dos cursos.
Luana também aponta que existem recomendações feitas pelo MEC aos cursos a distância, entre elas a orientação que cada grupo de 25 alunos tenha a disposição um tutor presencial e online, “mas isso não acontece, geralmente o número de alunos é maior”, conta.
Outra condição do MEC é que cada curso a distância passe por uma avaliação institucional para averiguar se as condições dos pólos de apoio estão dentro dos parâmetros propostos.
Veja o Referêncial de Qualidade para Educação Superior a Distância elaborado pelo MEC em 2007
aqui.
Relações humanas x Evasão
Roosevelt comenta a importância do tutor-presencial na hora de estimular as relações humanas. Como estão cientes de todos os processos, ficam mais próximos aos alunos e tem a oportunidade de estimulá-los a participar das aulas, evitando um dos maiores males da EaD: a evasão. Ele conta sua experiência com ensino online:
Os dois tutores destacam características distintas dos cursos de EaD. Para o economista “o ensino a distância é feito para todo mundo, mas nem todo mundo é feito para o ensino a distância”. Roosevelt destaca a grande quantidade de conteúdo e a rotina dos cursos a distância, que exigem disciplina dos alunos. Ouça:
Já Luana lembra que muitos tem a concepção de que os cursos a distância são feitos integralmente nas casas dos alunos, pelo computador. “Na verdade é a universidade que oferece o curso que está ‘a distância’, o que não significa que o aluno não comparecerá aos pólos presenciais”.
Fonte: http://cloud-ead.programmers.com.br/blog/equipe-multidisciplinar-e-diferencial-da-educacao-online/