Haverá mais palavras escritas no Twitter nos próximos dois anos do que as contidas em todos os livros já impressos. A epítome da nova comunicação é exatamente essa: curta e em tempo real.
Por mais curioso que possa parecer, o quarto relatório trimestral do Facebook em 2013 afirmava que pessoas abaixo de 18 anos não estão mais usando essa rede social como antes. Independentemente da maneira como os adolescentes estejam mantendo contato uns com os outros, seja pelo Facebook, Snapchat, WhatsApp ou Twitter, a única certeza é a de que eles estão usando palavras. Até o adolescente mais reservado de 2014 escreveu muito mais em toda a sua vida do que qualquer um dos que viveram suas adolescências no início da década de 1990 (ou anteriores).
A Internet tem vários aspectos lamentáveis, mas isto sempre agradou: ela é um mundo de escritores. A sua vida on-line, seja você quem for, é mediada pelas palavras. Você trabalha, socializa e flerta, tudo digitando. Não importa quais palavras usamos ou como escrevemos as letras, estamos “nos escrevendo” mais do que nunca. Hoje não é preciso confiar na sorte para preservar e saber o que alguém estava pensando ou como falava. Está tudo preservado. Estamos à beira de uma mudança monumental no estudo da comunicação humana.
Haverá mais palavras escritas no Twitter nos próximos dois anos do que as contidas em todos os livros já impressos. As análises mais básicas mostram que a linguagem no Twitter está longe de ter se degradado. Uma comparação das palavras mais usadas no Twitter com o Oxford English Corpus (OEC — Corpus da Língua Inglesa de Oxford), uma coleção de aproximadamente 2,5 bilhões de palavras retiradas de todos os tipos de escrita moderna: jornalismo, romances, blogs, artigos acadêmicos etc. Separando as cem primeiras palavras das dezenas de milhares utilizadas pelas pessoas.
Se observa na lista do Twitter, que apesar dos resmungos dos cansados guardiões no alto da Fortaleza da Língua (Inglesa, no caso), existem apenas duas palavras da linguagem da Internet: RT que significa retweet (retuitar) e u, usada no lugar de you (você) entre as cem mais utilizadas. Era de se imaginar que as contrações gramaticais ou de outros tipos seriam a base de um formato que permite apenas 140 caracteres, mas as pessoas parecem estar escrevendo de acordo com esta limitação em vez de usar artifícios para driblá-la. Em Língua Portuguesa, apesar de não termos uma pesquisa similar, é bem possível que os resultados não fossem tão diferentes.
Quando se calcula o tamanho médio de palavra no Twitter, ele é maior que o do OEC: 4,3 caracteres versus 3,4. O Twitter, na verdade, pode estar melhorando a escrita dos usuários. Quem tuíta não tem opção além de ser conciso e, pensando bem, o limite de caracteres na verdade explica as palavras levemente maiores que encontramos. A mudança que o Twitter trouxe à linguagem em si não é nada comparada à mudança que está trazendo ao estudo da linguagem. Os pesquisadores já estão agrupando as pessoas pela linguagem que usam no Twitter.
O Twitter, na verdade, pode estar melhorando a escrita dos usuários.
Quando linguagem e dados se unem, essa dimensão extra que é o tempo se torna irrefutável. Mas perceba que estamos vivendo a explosão cambriana da escrita em vez de sua extinção em massa. A variedade é a preservação da arte, não uma ameaça a ela. Toda essa escrita tem um propósito. Usamos palavras para nos conectar[3].
Fonte: http://www.dataclisma.com.br/internet-um-mundo-de-escritores/
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