“A Cibercultura é uma cultura da leitura e da escrita. E da leitura e da escrita de uma forma ampla. A cultura massiva dos meios de massa pré-digital é uma cultura apenas da leitura. O que nós podíamos fazer era ler, ler um jornal, assistir um programa de televisão, ouvir o rádio, ou fazendo essa mesma migração para a escola, ouvir o professor (...) A Cibercultura está trazendo a possibilidade, não só de ampliar a leitura, pode-se ter a informação de qualquer lugar do mundo, em vários idiomas, sobre vários formatos, como pode-se também produzir conteúdo, o sujeito passa a ser um escritor, e não apenas um leitor”.
(André Lemos - UFBA)
Este post tem como objetivo apresentar uma discussão sobre o conceito de cibercultura, e os aspectos que envolvem o virtual e o digital em rede. Aborda as características da sociedade em rede, da sociedade da informação, do fenômeno da cibercultura e suas implicações na educação. Reflexões sobre as novas formas de ensinar e de aprender no ciberespaço e as implicações destas transformações na sociedade contemporânea.
A palavra “cultura”, vem do latim “colere” que significa “cultivar”. Segundo o Dicionário Aurélio, cultura é um substantivo feminino (s.f.) que significa “a ação ou maneira de cultivar a terra ou as plantas; o desenvolvimento de certas espécies microbianas como caldo de cultura; a categoria de vegetais cultivados como as culturas forrageiras; a arte de utilizar certas produções naturais como a cultura do algodão; a criação de certos animais como a cultura de abelhas. A palavra “cultura” significa, também, “o conjunto dos conhecimentos adquiridos; a instrução; o saber como sólida cultura. Na Sociologia, significa “o conjunto das estruturas sociais, religiosas, das manifestações intelectuais, artísticas; algo que caracteriza uma sociedade como a cultura inca ou a cultura helenística. Ou ainda, “a cultura de massa; o conjunto dos fatos ideológicos comuns a um grupo de pessoas consideradas fora das distinções de estrutura social”.
Cultura tem vários significados, por exemplo, na arqueologia a cultura significa os restos de uma civilização, objetos deixados por uma população que o tempo conserva. Na biologia, cultura é um meio fechado onde há a proliferação de bactérias que se multiplicam isoladas do grupo como um todo. Nesse sentido, uma analogia destas duas áreas do conhecimento com a cultura da internet, poderia ser a relação existente entre as pesquisas no Google como uma espécie de arqueologia e, os grupos fechados no Facebook, como os grupos de bactérias que se disseminam fechadas em um espaço único.
A internet apresenta diversas manifestações culturais que podem definir o conceito de cibercultura como sendo “tudo o que está disponível na internet”, ou “tudo o que acontece na internet”, ou ainda, “toda esta cultura que está no espaço virtual”. A internet apresenta diversos fenômenos, dentre estes, observa-se que a produção de textos tem crescido muito com o advento da Web 2.0. As pessoas estão escrevendo e publicando muito mais na internet do que tempos atrás. Os recursos como Blogs e Wikis possibilitam a escrita de forma colaborativa e cooperativa. Um exemplo de expressão da cultura da internet é o chamado “internetês” que é utilizado, principalmente, em bate-papos online onde as pessoas escrevem uma espécie de código que somente os internautas reconhecem.
O autor (Lévy, 1999) afirma que o crescimento do ciberespaço resulta de um movimento internacional de jovens ávidos para experimentar, coletivamente, formas de comunicação diferentes daquelas que as mídias clássicas nos propõem.
A sociedade atual está inserida na cultura digital, onde experimenta novos espaços e novos tempos de comunicação, e cabe à esta mesma sociedade explorar todas as potencialidades positivas destes espaços, tanto no âmbito, social, cultural, político, educacional ou humano.
Especialmente, no âmbito educacional, é importante que a sociedade tenha a noção de que nem todo material produzido e disponibilizado nas redes são fontes seguras, adequadas e de boa qualidade didático-pedagógica. Da mesma forma que não pode-se pensar que todos os filmes produzidos para o cinema, ou programas apresentados na televisão, são de boa qualidade. Por outro lado, professores e educadores, precisam estar atentos e receptivos às novidades tecnológicas, para que possam compreendê-las e utilizá-las nos espaços educativos de forma a contribuir com a aprendizagem dos estudantes.
As tecnologias digitais em rede estão presentes na sociedade e não tem como se pensar esta mesma sociedade sem as tecnologias. Da mesma forma, como não tem como se pensar as escolas e universidades, sem acesso às inovações tecnológicas nas salas de aula, sejam estas salas físicas, com aulas presenciais, sejam salas online, mediadas por um ambiente virtual de aprendizagem. As tecnologias digitais em rede estão presentes no dia a dia do homem e não há como não considerá-las nos processos produtivos e educativos, com os quais interagimos.
A sociedade contemporânea precisa conscientizar-se e adaptar-se às novas formas de viver e conviver “com”, e “na”, virtualidade. Para isso, faz-se necessário pensar em novas formas de ensinar e de aprender na cultura digital.
Partindo desses pressupostos, é importante refletir sobre a “cultura do online” na sociedade contemporânea e sobre as relações que existem e que ainda podem ser criadas entre a “cibercultura e a educação”.
Cibercultura: o conceito
O conceito de cibercultura vem sendo amplamente discutido por pensadores e pesquisadores de diversas áreas do conhecimento, como a Comunicação, a Educação, a Filosofia, a Informática, a Psicologia, dentre outras.
Segundo a Wikipédia[1],
“O termo cibercultura tem vários sentidos mas se pode entender como a forma sociocultural que advém de uma relação de trocas entre a sociedade, a cultura e as novas tecnologias de base micro-eletrônicas surgidas na década de 70, graças à convergência das telecomunicações com a informática. A cibercultura é um termo utilizado na definição dos agenciamentos sociais das comunidades no espaço eletrônico virtual. Estas comunidades estão ampliando e popularizando a utilização da Internet e outras tecnologias de comunicação, possibilitando assim maior aproximação entre as pessoas de todo o mundo. Este termo se relaciona diretamente com a dinâmica Política, Antropo-social, Econômica e Filosófica dos indivíduos conectados em rede, bem como a tentativa de englobar os desdobramentos que este comportamento requisita. A cibercultura não deve ser entendida como uma cultura pilotada pela tecnologia. Na verdade, o que há na era da cibercultura é o estabelecimento de uma relação íntima entre as novas formas sociais surgidas na década de 60 (a sociedade pós-moderna) e as novas tecnologias digitais. Ou seja, a cibercultura é a cultura contemporânea fortemente marcada pelas tecnologias digitais. Ela é o que se vive hoje. Home banking,cartões inteligentes, voto eletrônico, pages, palms,imposto de renda via rede, inscrições via internet, entre outros que provam que a cibercultura está presente na vida cotidiana de cada indivíduo”.
Em outras palavras, cibercultura[2] é a cultura contemporânea estruturada e mediada pelas tecnologias digitais em rede, e pode-se afirmar que não há cibercultura sem as tecnologias digitais de rede. Por outro lado, também não haveria sentido no uso das tecnologias digitais de rede, se não houvesse a cibercultura.
Segundo a professora Edméa Santos (PROPED/UERJ), as tecnologias digitais em rede e os sujeitos culturais formam uma relação híbrida, onde nem o homem, nem as tecnologias são protagonistas da cibercultura. O que existe é um hibridismo entre os sujeitos culturais e as tecnologias, que vão se constituindo e formando a cibercultura.
No contexto educacional, é importante pensar sobre a relação entre os sujeitos, as tecnologias e as interações possíveis neste novo ambiente. Uma vez que as tecnologias digitais de rede são a base da sociedade atual, não é possível se pensar a sociedade contemporânea sem as tecnologias. Como resultado das demandas deste novo ambiente social, os governos federais, estaduais e municipais, estão empenhando-se em disponibilizar laboratórios de informática, netbooks, dispositivos móveis como tablets e acesso à internet, nas escolas de todo o Brasil.
Todas estas iniciativas estão sendo implementadas porque a sociedade está organizada com base nessas tecnologias, e as instituições de ensino precisam estar atentas aos fenômenos da cibercultura.
Na cibercultura, as tecnologias digitais em rede são utilizadas para produzir e difundir significados, interagir com outros sujeitos e transformar estes significados em conhecimento novo. Este conhecimento novo, disponibilizado na rede, de forma digital, formam novas fontes de pesquisa de informações para outros sujeitos. Logo, as mesmas tecnologias que são utilizadas para compartilhar conhecimento já existente, também são utilizadas para produzir conhecimento novo.
Por outro lado, observa-se que muitos estudos na área da educação, referem-se às relações da cibercultura, das tecnologias digitais e das redes, “com” e, “no” contexto da sala de aula. No entanto, a discussão sobre o que é o “virtual” para a educação, ainda é muito restrita. A maioria dos pensadores ainda não relacionou o virtual com a educação. O conceito do virtual que tem as raízes na filosofia, mas que se traduzido para as áreas da comunicação e da educação terá um grande significado, ainda é pouco estudado. Segundo a professora Daniela Melaré Vieira Barros (UAB-Portugal) [3], “o conceito de virtual para a educação é essencial para definir-se outros elementos, da relação pessoa com comunicação, da pessoa com a informação, da pessoa com a aprendizagem”.
A ideia de pensar a cibercultura, o virtual e o digital em rede para a educação é porque a educação está próxima do homem de uma forma geral. O homem aprende com a internet, com a participação em redes sociais e, nas comunidades virtuais de aprendizagem, não apenas de forma autônoma, mas a partir da interação e colaboração com o outro.
As possibilidades da cibercultura, do virtual e do digital em rede, traz para a educação novas demandas para se pensar os processos educativos nas escolas e nas universidades. O homem não aprende somente nas instituições de ensino. A cibercultura contribui para que o homem possa aprender em colaboração e em rede. Nesse sentido, a cibercultura altera os modos de ensinar e de aprender na sociedade contemporânea.
Cibercultura e Educação: A Cultura do Online
Pela primeira vez na história da humanidade, a maioria das competências adquiridas por uma pessoa no início da sua vida acadêmica, estarão obsoletas quando esta mesma pessoa ingressar no mercado de trabalho. A velocidade com que as coisas acontecem, atualmente, exige que o homem esteja em constante aprimoramento acadêmico, organizando-se de forma a aperfeiçoar-se ao longo de toda a vida.
Qualquer reflexão sobre o futuro da educação e, mais especificamente, sobre como será a educação mediada pelas tecnologias, precisa ser fundamentada com base em estudos que levem em consideração as mudanças constantes que a sociedade contemporânea vem vivendo ao longo dos últimos anos.
Na sociedade em rede, a natureza do trabalho produtivo é completamente diferente, do trabalho desempenhado pelo homem na sociedade industrial. O trabalho em rede exige que o homem tenha interesse em aprender e produzir saberes em colaboração com o outro, diferente do trabalho na sociedade industrial, onde o homem exercia o seu ofício isolado dos outros e desempenhava, ano após ano, as mesmas atividades (VEIGA-NETO & SARAIVA, 2009).
A cultura digital suporta tecnologias digitais que ampliam, exteriorizam e modificam a cognição humana, como por exemplo, a memória a partir de dados disponíveis em banco de dados, ou a imaginação a partir das simulações. Todas estas tecnologias favorecem o desenvolvimento da cognição humana[4]. Segundo a professora Léa da Cruz Fagundes, “(...) diferentemente das tecnologias analógicas que expandem os poderes orgânicos, musculares e sensitivos do homem, as tecnologias digitais, ampliam os sentidos do homem e melhoram a percepção, mas não é só isso que as tecnologias fazem, elas ampliam a cognição humana”. O que a professora Léa afirma é que as tecnologias analógicas não fazem a expansão dos poderes cognitivos, do conhecimento e da inteligência do homem, como as tecnologias digitais o fazem muito bem.
As tecnologias digitais proporcionam novas e diversificadas formas de acesso às informações a partir da possibilidade de navegação em hipertextos e de mecanismos de pesquisas avançadas, que quando disponíveis na rede, podem ser compartilhadas entre muitas pessoas colaborando com a inteligência coletiva do homem.
Nesse sentido, faz-se necessário encontrar um novo estilo de pedagogia, uma pedagogia que favoreça ao mesmo tempo as aprendizagens individuais, mas também, as aprendizagens coletivas e em rede. O professor precisa tornar-se um mediador e orientador da inteligência coletiva dos estudantes, em vez de ser o detentor do saber(LÉVY, 1999).
Tim Berners-Lee[5] idealizou a criação de uma rede universal que utilizasse as tecnologias e a linguagem hipertextual, e apresentou em 1989 a proposta de criação do sistema de informação World Wide Web (também chamada de Web ou WWW). A ideia revolucionária de reunir o hipertexto e a internet com a criação das ferramentas necessárias para o sistema funcionar, como navegadores, servidores e páginas Web,foi o marco inicial do ciberespaço denominado de “meio emergente de interconexão mundial de computadores”.
Segundo (Silva e Pereira, 2012) apud (Silva, 2012), de 1989 para 2013, a história da Web totaliza apenas vinte e quatro anos, e no entanto, com a velocidade das transformações e inovações tecnológicas, já pode-se classificá-la em dois momentos denominados Web 1.0 e Web 2.0.
A Web 1.0 emergiu nos primeiros dez anos do surgimento da WWW (na década de 1990), com foco na informação e comunicação, a partir da criação do correio eletrônico (e-mail) e dos portais de informação, como o Yahoo (1994), Altavista (1995) e Google (1998). A Web 2.0, surgiu a partir do ano 2000 e, disponibilizou a interação com a criação de interfaces que valorizam a interação social, como Blogger, Wiki, hi5, Orkut, Facebook, YouTube, Twitter, Instagram, etc. Desta forma, a Web passou a ser uma rede social virtual importante na sociedade contemporânea pela quantidade de pessoas e atividades envolvidas neste ambiente.
Hoje, mesmo com a demora na expansão da internet nas classes D e E, e nas áreas rurais, o Brasil conta com 80,9 milhões[6] de usuários da internet. É importante ressaltar que esse número de pessoas com acesso à rede, via conexão banda larga nas residências, escolas ou empresas, é um número expressivo e deve ser considerado.
A percepção da importância do ciberespaço foi reconhecida por vários filósofos e sociólogos contemporâneos que têm refletido sobre a evolução das relações sociais na sociedade moderna e do papel que os atuais sistemas tecnológicos desempenham na constituição de comunidades virtuais.
O autor Michel Maffesoli (Maffesoli, 1990) afirma que, “vive-se, atualmente, o retorno dos tempos das tribos, não literalmente como constituíram-se, mas tribos de conhecimento, do afetivo e do social às quais o homem se agregará voluntariamente para compartilhar saberes, necessidades e desejos das mais variadas ordens.
O crítico e escritor Howard Rheingold (Rheingold, 1996) apud (Silva, 2012)publicou o livro A Comunidades Virtual, defendendo um novo tipo de comunidade que reuniria pessoas online em torno de uma série de valores e interesses partilhados.
O sociólogo Manuel Castells (Castells, 2004, p. 161) também afirma que ao efetuar uma profunda reflexão sobre as relações de sociabilidade, considera que a interação social e online desempenha um papel cada vez mais importante na organização social, no seu conjunto, podendo “constituir comunidades virtuais, diferentes das comunidades físicas, mas não necessariamente, menos intensas ou menos eficazes em unir e mobilizar.
O autor (Silva, 2005, p. 40) apud (Silva, 2012), afirma que a “navegação no ciberespaço não fica restrita apenas à disponibilizar e acessar dados pela internet, mas estabelece uma rede de conversação onde trocam-se atos de comunicação onde o mundo privado da experiência pessoal daqueles que o praticam é projetado no interior do mundo interpessoal e grupal das interações”.
É nesse contexto que compreende-se o conceito de cibercultura. Os princípios orientadores da cibercultura leva a pensar no que caracteriza a sociedade global na era da informação: a sociedade em rede (CASTELLS, 2002).
A cibercultura reúne milhões de usuários da internet comunicando-se, simultaneamente, partilhando e compartilhando conhecimento. Dessa forma, interagindo com o outro para aprender, ensinar e relacionar-se. Nestas possibilidades de intervenção, de modificação e de feedback residem as vantagens da cibercultura. Esta alteração é sobretudo visível nos jovens, que se apropriam das tecnologias digitais em rede e as utilizam com naturalidade nos seus mundos comunicativos, que se dividem de forma flexível entre o presencial, o síncrono, o assíncrono, convergindo ou divergindo nos espaços e tempos, sempre com a mesma naturalidade (SILVA, 2012, p. 35).
Diversos autores, desde 1996, já anunciavam as possibilidades do ciberespaço para a educação (Harasim , L . Hiltz , S . R ., Turoff , M ., Teles, 2000, p.23) e (Serge Pout-Lajus, Marielle, 1999), (Lévy, 1996), (Lévy, 1992), (Lévy, 1999).
Considerações sobre este post A Cultura do Online na Sociedade em Rede. As possibilidades de ensinar e aprender na cibercultura são uma das transformações da sociedade contemporânea. O ciberespaço, a cibercultura, a comunicação, a mediação, a interação (sob uma perspectiva epistemológica), a interatividade (sob uma perspectiva tecnológica) são conceitos-chave nesse contexto desta pesquisa. Na educação é importante uma imersão cibercultural, isto é, todos os envolvidos precisam vivenciar na prática o conviver no ciberespaço, desvinculando-se de uma postura pedagógica tradicional para novos modos de comunicação educativa. Um novo espaço e uma nova cultura para ensinar e aprender, assim é, o ciberespaço e a cibercultura, respectivamente. Um lugar e um modo de (re)criar conhecimento de forma constante. É importante trazer o conceito de “cultura da virtualidade real” de Manuel Castells (Castells, 2004, p. 240), onde a desvinculação não se opõe ao real no sentido de que o virtual é real. Pode-se afirmar que a imersão cibercultural é a condição essencial para facilitar a mudança de paradigma pedagógico para um modelo mais ativo e colaborativo, baseado na partilha e na coautoria (SILVA, B. & PEREIRA, M. da G.) apud(SILVA, 2012).
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