segunda-feira, 23 de setembro de 2013

Tecnologia nas escolas: Porquê? Para quê? Como?


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Ambiente para transformações já existe. Segundo a pesquisa realizada em 2012 pelo Centro de Estudos sobre Tecnologias da Informação e Comunicação, em São Paulo, 95% dos estudantes brasileiros já utilizaram computador e 92% navegaram na internet, com o acesso à rede em casa, cibercafés e lan houses. Entre os professores, 99% são usuários da rede e 97% têm computador pessoal. A presença dos equipamentos nas escolas também vem crescendo. Entre 1999 e 2012 foram instalados 85 mil laboratórios de informática nas escolas públicas segundo o Ministério da Educação (MEC)”. [Um link para a aprendizagem. artigo de Aurélio Amaral, para a revista Gestão Escolar, edição de agosto e setembro de 2013]
Os recursos chegaram nas escolas. Os dados e a realidade comprovam isso. A tecnologia está presente, tanto nas escolas particulares quanto nas públicas, na realidade de vida dos alunos assim como na dos professores. A educação brasileira está conectada, cada vez mais, inclusive em localidades distantes, onde se imaginava que esta possibilidade demoraria períodos longos para se estabelecer.
Cabem então perguntas que precisam ser respondidas de forma pontual para que recursos como computadores, lousas digitais, notebooks, classmates, tablets e outros devices, ligados a rede mundial de computadores, sejam usados de modo mais constante e articulado com outros recursos para melhor ensinar os conteúdos e desenvolver as competências e habilidades dos milhões de alunos brasileiros.
A primeira questão refere-se ao porquê, ou seja, aos motivos que nos ensejam a usar esta tecnologia em sala de aula e, certamente, apesar de aparentemente ser fácil responder, demanda atenção e critério em sua elaboração.
Vivemos numa era em que os processos gerais associados a existência humana estão sendo digitalizados e/ou virtualizados. As informações estão migrando há pelo menos 2 décadas do papel para os computadores. A forma como criamos e socializamos dados associa-se atualmente aos bits e bytes e, para a nova geração de habitantes do planeta, em especial aquela nascida depois de 1995, quando o fenômeno Netscape começou a popularizar a internet no mundo, a realidade não pode ser dissociada destas novas tecnologias de informação e comunicação.
Os alunos, portanto, demandam linguagens associadas ao que lhes é peculiar ao longo do dia, seja em seus computadores ou tablets, seja através de seus smartphones ou, principalmente, nas relações com seus pares, ensejadas por estes meios. E entre aqueles que compõem seu dia a dia, ao menos por jornadas de 4 a 5 horas diárias, estão os professores, com os quais, espera-se, venham a ter acesso ao conhecimento produzido e sistematizado pela humanidade há séculos.
Somente isso já bastaria para firmar a necessidade da tecnologia nas escolas, não é mesmo? Mas temos que pensar além e perceber também as particularidades destes recursos, que nos permitem acesso a informações em tempo real, buscando dados em bases localizadas em qualquer canto do mundo, permitindo visitas as principais bibliotecas e acervos do planeta [e quanto a isso o papel da escola é decisivo, pois aos educadores compete indicar os melhores caminhos da rede, aqueles nos quais os estudantes possam ter acesso a informações corretas, de bases confiáveis, como universidades, estatísticas e relatórios oficiais, órgãos informativos reconhecidos, empresas consolidadas…
Além da velocidade e do acesso a gigantescos bancos de dados confiáveis, há também a questão da multimídia oferecida através da rede mundial de computadores, ou seja, da possibilidade de se aprender não apenas através de textos, mas também de vídeos, simulações, arquivos de áudio, animações, imagens…
E se não bastasse, através das tecnologias é possível criar redes a conectar os alunos, os professores e todo o mundo ao alcance dos sinais da internet. Por estas redes, desde que articuladas, pensadas e propostas para estas finalidades, é possível criar grupos de estudo, por exemplo, em que os alunos entre si se auxiliem quanto a dúvidas, trabalhem para a construção de projetos, busquem dados sobre os assuntos relacionados a realidade, compreendam o valor e o sentido da aprendizagem realizada nas escolas.
Tudo isso, é claro, sem perder de vista os processos, metodologias e procedimentos já consagrados nas escolas, associando a eles não apenas o uso planejado das tecnologias como novo e eficiente conjunto de recursos, mas também pautado em práticas que já estão sendo usadas em escolas brasileiras ou de outros países, como a sala de aula invertida (a flipped classroom), as MOOCs (cursos virtuais a distância oferecidos pelas melhores universidades do mundo) ou videoaulas como aquelas criadas por Salman Khan, que compõem o acervo da Khan Academy.
A escola hoje não pode prescindir das tecnologias assim como, tampouco pode abrir mão dos livros, de momentos em que serão necessárias explanações e conceituações por parte dos professores a frente dos alunos, de momentos fora do universo virtual em que os estudantes realizem arte ou esporte ou experimentos em laboratórios, das visitas programadas a museus e exposições…
Articular todas estas possibilidades é o grande desafio. Inserir as tecnologias no dia a dia compõe, para as escolas, outra grande vitória a ser conquistada. Vencer os modelos pré-estabelecidos de aulas, em relação aos quais o uso da tecnologia ainda é ínfimo ou apenas curiosidade, vitoriosos em grande parte dos casos, mas que já não tem o mesmo impacto sobre a geração digital de alunos deste século XXI, é outra tarefa que se faz presente no horizonte das escolas.
E é nesse ínterim que já vamos respondendo as duas outras perguntas, ou seja, o para quê e como. Se não integrarmos aos demais recursos e metodologias o uso das tecnologias, logo estaremos pregando no deserto, diante de alunos que estarão por ali para cumprir o compromisso, bater o cartão e voltar para o mundo plugado de onde vieram. Neste sentido compete ao professor compreender que no processo da comunicação, aquele em que há emissores e receptores de mensagens, a relação é de mão dupla, ou seja, os educadores tem que aprender a ouvir esta geração conectada e lhes oportunizar a informação científica, esclarecida, pesquisada e de qualidade que a escola, em contato com o mundo, seleciona, filtra e direciona para o crescimento destes estudantes. O professor não é, neste novo modelo, o transmissor de informações único e, em assim sendo, é preciso estabelecer diálogos, propor debates, ensejar informações, trabalhar com projetos, provocar e estimular o aluno.
A migração para este novo universo não é fácil, afinal de contas temos uma geração de transição entre os docentes do Brasil e do mundo hoje. Professores que nasceram analógicos e que estão sendo cobrados no sentido de se tornarem digitais e isso certamente mexe com todos, como provocação e estímulo ao mesmo tempo em que muitas vezes causa dor e sofrimento. É como um parto, em que estamos seguros e confortáveis no útero materno para que, passados os nove meses, tenhamos que sair para o mundo, encarar a luz e todos os desafios que há lá fora… O importante, ao final das contas, é perceber que todo e qualquer recurso tecnológico a ser usado na escola, precisa ser maturado entre os professores, ou seja, incorporado ao seu cotidiano sem sobressaltos, permitindo aos docentes perceber o que são, como funcionam, de que forma podem ajudar nas aulas, que participação podem ter nos cursos e, aos poucos, na medida de cada um, passarem a frequentar as aulas, até o momento em que de lá não mais sairão.
Só para exemplificar e terminar, veja o caso das lousas digitais interativas, que compõem a evolução dos quadros negros (ou verdes), onde se escreve com giz, substituídos por quadros brancos, com canetas piloto, que por sua vez viram surgir os retroprojetores, com aulas sendo preparadas em transparências ou, mais recentemente, com o advento dos equipamentos datashow… As lousas digitais interativas permitem fazer tudo o que estes recursos que a antecederam faziam com acréscimos como inserir vídeos, abrir animações, escrever e gravar os dados para depois compartilhar com os alunos, gravar a aula como filme para que os alunos vejam os dados associados a explicações e outros meios usados durante as aulas… No começo, ao usar lousas digitais, há um certo desconforto (o giz parece mais fácil de usar, dizem alguns professores), superado ao longo do tempo, com a familiaridade com os recursos da lousa. Depois de alguma insistência, os professores concluem que a vida melhora, suas aulas ficam mais ricas pelas multimídias, os alunos participam mais e demonstram maior interesse e, por aí vai…

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