Uma americana de 13 anos explicou recentemente ao Mashable por que os adolescentes de sua faixa etária estão abandonando o Facebook. Eles têm optado por outras redes sociais, como Instagram, Twitter e Snapchat.
O motivo dessa diáspora digital não tem a ver com as funcionalidades da ferramenta. A questão é social. Para os adolescentes, conviver com os pais é como ser patrulhado por eles. Ou sofrer o constrangimento de receber de um amigo dos pais uma mensagem aberta do tipo “Olá, docinho”.
Ela reclama também da publicidade. O Facebook busca desesperadamente expor conteúdo das marcas para os usuários ― pois é isso que sustenta o negócio ― e acaba fomentando SPAMs, apelido dado a qualquer mensagem não solicitada, como aquelas que aparecem em seu feed de notícias.
Mas não é só isso. A irrelevância do conteúdo que as pessoas postam é o maior problema. Não estou falando dos adolescentes, mas de nós mesmos, adultos. Blogs e redes sociais deram às pessoas o que nenhuma outra mídia proporcionara: a oportunidade de elas próprias produzirem conteúdo, libertando-se das garras da mídia tradicional.
Com uma caixa e texto e um botão “publicar” à disposição, o que fizeram as pessoas? Fizeram um serviço porco.
Antes de publicar conteúdo, é preciso identificar o que agrada ao público a quem se destina. É preciso, ainda, apurar a informação. No entanto, a maioria das pessoas realiza nas redes sociais um desejo reprimido de ser personagem ― e não autor ― de seu próprio conteúdo. Quase tudo é informação sobre si mesmo ou opinião sobre qualquer coisa, especialmente quando não se sabe nada sobre o assunto.
Nos posts, o cuidado com a gramática passa longe. A ponto de já termos nos habituado a decifrar frases desconexas e a ler erros primários, como trocar “mas” por “mais”, “a gente” por “agente”, “a fim” por “afim” e outros ainda mais criativos. Escrever bem e corretamente continua sendo um componente da comunicação em qualquer mídia, exceto nas mídias sociais.
O conteúdo gerado pelas pessoas é mal escrito e irrelevante. Quando falo de relevância, não me refiro a informações político-econômicas ou sobre o aquecimento global. Histórias do cotidiano servem. Uma passagem divertida, uma foto criativa, uma queixa pertinente: tudo isso tem relevância quando bem produzido.
Mas até as boas histórias domésticas perdem tomam uma lavada do autonoticiário. “Peguei trânsito”, “Aff, que gente mal educada”, “Meu voo atrasou”, “Fui correr hoje cedo”, “Estou em Paris”… Falamos tanto de nós mesmos que nos tornamos os chatos aos quais a adolescente se refere.
O resultado disso é a queda do uso do Facebook.
O modelo criado pela Gartner mostra o ciclo de vida de plataformas digitais. Nos cursos que ministrei de maio a agosto, em São Paulo, Rio, Maceió e Brasília, fiz a mesma pergunta aos participantes: em que ponto está o Facebook? A maioria o posicionou no início da decadência, logo após o auge.
A percepção de queda da rede de Mark Zuckerberg não é restrita a esses meus alunos, que são poucos ― não chegam a 200. Está também no relatório da Kleiner Perkins Caufield & Byer, publicado recentemente. A pesquisa mostra que a atividade em todas as redes pesquisadas cresceu de 2011 para 2012. O Facebook foi o único que registrou queda.
Há quem argumente que nada disso importa, pois o Facebook é uma ferramenta de relacionamento, e não de conteúdo. Pode até ser, mas isso não resolve o problema. Por acaso, relacionamento é necessariamente bom? Não se desgasta? Não acaba? Lembre que Orkut e Twitter tiveram declínio acentuado justamente na fase em que os barracos se tornaram mais frequentes.
Embora o Facebook tenha criado mecanismos eficientes de punição a quem sair da linha, discussões acaloradas têm sido cada vez mais frequentes no feed de notícias.
Dia desses, presenciei um profissional conceituado da área de saúde anunciando abertamente que um amigo lhe devia dinheiro. Como havia sido bloqueado pelo suposto devedor, resolveu cobrar a dívida expondo o problema publicamente. Não duvido que o caso acabe na justiça. Menos mal que não tenha acabado em morte, como aconteceu em junho, em Tocantins.
O que vai acontecer daqui para a frente? Não sei. A garota de 13 anos também não sabe. Ninguém, aliás, sabe. Quem disser que sabe estará chutando só para chamar a atenção.
Mas é bom ficar de olho nos movimentos. O Whatsapp, aplicativo de troca de mensagens por smartphones, já alcançou a marca de 250 milhões de usuários. O Snapchat tem uma linha parecida, mas usa as fotos compartilhadas como elemento central. E, embora pouco difundido no Brasil, já tem nível de atividade maior do que o Instagram.
O que Whatsapp e Snapchat têm em comum? Eles mantêm privadas as conversas, sejam elas individuais ou em grupo. Ficam livres das investidas das marcas e dos chatos que só sabem falar de coisas fúteis do cotidiano.
Restringir os diálogos parece ser uma necessidade e, portanto, uma tendência. Afinal, a adolescente de 13 anos não nos aguenta mais.
Um comentário:
Ligia,
Adorei a matéria. Tenho interesse nesta área de tecnologia.
Tem como você me passar seu email, por favor?
Aguardo seu contato.
Meu email:claudiadeviana@globo.com
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