por Giulliana Bianconi
Disponível em: https://www.institutoclaro.org.br/em-pauta/cultura-digital-tendencia-educacao/
Foram necessários quase 40 anos para que a discussão sobre o uso das tecnologias na educação se estabelecesse na sociedade com uma certa prioridade. Dos anos 70, quando Seymor Papert criou a linguagem de programação LOGO para as crianças, até os dias de hoje, com as redes sociais invadindo a sala de aula, muito se falou, opinou e especulou sobre a “transformação” dos processos de ensino/aprendizagem. Entre a linguagem criada por Papert e o Facebook de Mark Zuckerberg uma nova cultura se estabeleceu e sacudiu a educação tradicional. Com as tecnologias digitais, os estudantes passaram a ter a oportunidade de aprender de forma mais autônoma, e outra dinâmica tende a se estabelecer entre o aluno e o professor.
Para discutir as tendências para a educação inserida na cultura digital, desde 2005 é lançado o “HorizonReport, reconhecido relatório anual que envolve universidades de diversos países e destaca o que será utilizado na aprendizagem entre um e cinco anos. Como a presença da cultura digital na educação muda de acordo com a realidade de cada região, o Instituto Claro destaca aqui como os temas Mobilidade e E-books - apontados pelo relatório como uma realidade para o período de um ano ou menos - estão sendo tratados no Brasil.
E-books: evolução para o software
Livros digitais estão espalhados aos montes em sites de domínio “.br”. Bibliotecas gratuitas, como a Domínio Público, a eBook Cult e a Brasiliana oferecem diversos títulos. Isso, entretanto, é só a ponta do iceberg. O que Eduardo Pellanda, coordenador do Laboratório de Pesquisa em Documentos Digitais da PUC-RS, destaca é que os e-books estão se transformando em softwares. “Eles ganham um formato próprio, mais interativos, e deixam de ser somente a transposição do livro de papel para o eletrônico. Isso mostra o ‘amadurecimento’ dos e-books na cultura digital, pois é natural que, trocando de meio, a forma de passar a mensagem também mude”, analisa ele, inspirado em Marshall McLuhan.
Para a educação, isso representa outras possibilidades e novos caminhos. Mais interativos, os e-books realmente sugerem uma nova dinâmica, com estudantes ativos que buscam informação, escolhem modelos, em vez de simplesmente lerem de forma passiva. “Mas o passo mais definitivo no sentido de mudar o uso do e-book é pensar no desenvolvimento de conteúdos multimídias para eles. Em vez de apenas estimular o texto projetos pedagógicos podem focar em formatos integrados de vídeos, infográficos”, diz.
No Brasil, a produção de e-books interativos nas instituições de ensino ainda não é expressiva, embora as empresas estejam despejando no mercado nacional diversos novos títulos. “A Menina do Narizinho Arrebitado”, de Monteiro Lobato, para o iPad foi uma das sensações durante a Bienal do Livro, no ano passado. E se você não entende o porquê, assistir ao vídeo abaixo pode ser uma forma de entender o quanto estas novas tecnologias são naturais para as novas gerações:
Mobilidade na era dos tablets
Palavra de ordem na cultura digital, a mobilidade tem desafiado educadores a pensarem novas propostas de ensino a cada dia. Na esteira dos tablets, educadores “antenados” já encontram vantagens na substituição dos computadores pela prancheta digital. É o caso de André Pase, doutor pela PUC-RS em vídeo digital e atualmente no pós-doutorado em Jogos Digitais. Em uma atividade com uma turma de pós-graduação para o desenvolvimento de um vídeo interativo a partir de imagens captadas no Museu de Ciência e Tecnologia, ele percebeu a facilidade proporcionada pelo gadget. “A gente ia caminhando pelo museu, e as propostas de cada um dos alunos para o vídeo iam sendo acrescentadas ali mesmo. Íamos passando o tablet de mão em mão, adicionando observações que serviriam para montar um roteiro”, conta.
Se a vantagem percebida pelo professor está direcionada à facilidade de manuseio e transportes desses aparelhos, o celular também tem sido alvo de vários projetos. Na faculdade de comunicação da PUC-RS, por exemplo, Eduardo Pellanda desenvolveu, em parceria com o Laboratório de Experiências Mobile do MIT (Masachusetts Institute of Technology), o projeto-piloto “Locast Civic”.
Trata-se de uma plataforma que foi criada para ser alimentada com informações em vídeo ou texto. Cada nova informação acrescentada, por estudantes ou professores, salta em um mapa, o que é possível porque os celulares com o aplicativo e conexão à internet também dispõem de GPS que leem a localização exata no momento da transmissão do conteúdo. “Você pode pensar que uma plataforma assim é útil para explorar uma cidade, para o turismo, para a educação ou até para uma empresa de comunicação que queira estimular, por exemplo, um jornalismo colaborativo”, explica Pellanda. Toda a experiência do “Locast Civic” está descrita em um e-book, ainda formatado sem recursos multimídias.
Com mais de 210 milhões de celulares registrados pela Anatel no Brasil até março deste ano e com a euforia dos tablets e seus aplicativos no país, o uso dessas ferramentas, atrelado a novas metodologias e projetos educacionais, como sugere o “Horizon Report”, é uma das vias possíveis para um ensino mais alinhado à realidade dos nativos digitais.
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