sexta-feira, 12 de abril de 2013

Howard Gardner: “Todas as pessoas que querem entender seus filhos e netos devem fazer um esforço para ‘tornar-se nativo’”


Foto: site do autor
O texto a seguir, de Howard Gardner, também é da obra Is the Internet Changing the Way You Think?: The Net's Impact on Our Minds and Future (2011).

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A internet mudou minha vida enormemente, mas não de um modo que eu pudesse antecipar, nem da maneira colocada pela questão. Dizendo sucintamente, é como se uma recém-descoberta tribo pré-letrada tivesse desafiado minhas crenças sobre a cultura e a linguagem humanas, a internet alterou meus pontos de vista sobre o desenvolvimento e o potencial humanos.

Alguns anos atrás, tive uma conversa casual com Jonathan Fanton, então o presidente da Fundação MacArthur. Ele comentou que a Fundação estava patrocinando um grande estudo, da ordem de 50 milhões de dólares, sobre como os jovens estavam mudando devido à nova mídia digital, como a internet. Nessa época, como parte de nosso projeto de pesquisa GoodWork, eu estava envolvido particularmente com a orientação ética dos jovens. Então, eu perguntei ao presidente Fanton: “Vocês estão olhando para os modos pelos quais a ética da juventude tem sido afetada?” Ele disse-me que a Fundação não tinha ainda pensado sobre esse assunto. Depois de várias conversas e um pedido de subvenção, nosso projeto GoodPlay, um estudo de ciências sociais da ética na mídia digital, foi iniciado.

A “revolução digital” deve ser vista como um marco histórico como a invenção da escrita ou da impressão
Mesmo que eu me pense como um imigrante digital – e por vezes refira-me a mim mesmo como um paleolítico digital – agora gasto muitas horas por semana pensando sobre os meios pelos quais quase todos nós – jovens e velhos – somos afetados por estarmos on-line, em rede, navegando ou postando em grande parte do dia. Estou convencido que a “revolução digital” deve ser vista como um marco histórico, assim como a invenção da escrita ou, certamente, a invenção da impressão ou o broadcast. Embora concorde com aqueles que advirtam que ainda é cedo para descrever quais os efeitos possíveis, não é tão cedo assim para começar a pensar, observar, refletir, conduzir observações e experimentos-chave. Na verdade, gostaria que os cientistas sociais e/ou outros observadores tivessem estado por perto, quando os outros novos meios de comunicação começaram.

Quanto à minha reflexão atual, eu poderia apontar os seguintes aspectos. As vidas e mentes dos jovens são bem mais fragmentadas do que em tempos anteriores. Essa multiplicidade de conexões, redes, avatares, mensagens, pode não incomodá-los, mas certamente faz com que as identidades sejam mais fluídas e menos estáveis. Momentos de reflexão, introspecção, solidão, são raros. Perspectivas tradicionais de privacidade e propriedade/autoria estão sendo rapidamente minadas. Provavelmente de modo mais dramático, o que significava pertencer a uma comunidade, por milênios, está sendo totalmente renegociado como resultado de um acesso constante, todo dia, toda hora, para todos que estão conectados à internet. Como isso irá afetar a intimidade, a imaginação, a democracia, a ação social, a cidadania e outras características básicas da espécie humana é algo em aberto.

Para pessoas mais velhas (até mais do que eu), o mundo digital é misterioso. Para aqueles de nós que estão na meia idade ou além, nós continuamos a viver em dois mundos – o pré-digital e o digital – e nós podemos ter nostalgia dos dias semblackberries ou ficarmos aliviados por não termos que ir mais à biblioteca. Porém, todas as pessoas que querem entender seus filhos e netos devem fazer um esforço para “tornar-se nativo” – e em tais ocasiões, nós, imigrantes digitais ou paleolíticos digitais, poderemos nos sentir divididos, com incertezas sobre a privacidade, entre a participação em diversas, e talvez desiguais, comunidades, como qualquer jovem de 15 anos.

fonte: http://blog.midiaseducacao.com/2013/04/howard-gardner-todas-as-pessoas-que.html

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