por Raquel Recuero
Um dos desafios com os quais frequentemente me deparo em conferências e debates acadêmicos no Brasil com relação ao uso dos sites de rede social na educação é a dificuldade no acesso. Muitos argumentam que nem todo mundo tem acesso, que jovens e adolescentes de classes mais baixas não têm Internet e, finalmente, que as escolas não têm acesso. Os argumentos são válidos, mas gostaria de salientar alguns pontos.
A inclusão digital
No Brasil, um dos grandes responsáveis pela inclusão digital foi o Orkut. E não sou eu quem diz isso apenas. Há um trabalho do Jeremiah Spence (2007) a respeito do Orkut no Brasil também trouxe dados parecidos. O Orkut foi uma ferramenta importante na história da Internet no Brasil porque motivou pessoas que não tinham acesso a procurar acesso, justamente, para utilizá-lo. Os sites de rede social, portanto, foram uma das portas de entrada da Internet no Brasil para muitos usuários, de idades e classes sociais diferentes. Isso significa que parte da experiência de uso da Internet para muitos de nós foi, exatamente, a experiência social. Esse acesso, que não se conseguia em localidades públicas, porque o Orkut era proibido, cresceu rapidamente em cibercafés e lan houses (o que também impactou no crescimento desses locais, especialmente dentro de comunidades mais pobres). Apenas para que se tenha uma idéia, numa rápida consulta aosindicadores do CGI, temos que entre 2005 e 2007 (anos da explosão do Orkut no Brasil), o uso da Internet cresceu cerca de 10% na população que nunca tinha acessado, e a grande atividade que concentrava o uso, o e-mail (70% em 2005) foi substituído pelo acesso aos sites de rede social (69% em 2008). Embora não seja possível apontar uma relação direta, outras pesquisas têm demonstrado que o Orkut atuou como grande motivador para essa busca pelo acesso, mesmo sem as condições físicas, nessa mesma época. O impacto do Orkut na sociedade brasileira foi tão grande que sua citação em programas de TV e notícias tornou-se tão lugar comum que nem necessidade de explicá-lo se via mais na mídia.
Em 2010, segundo os mesmos indicadores, a penetração do uso da Internet aumentou: Chegou a 80% entre os brasileiros de 10 a 24 anos, entre 79 e 83% dos mesmos usando sites de rede social. O que isso nos mostra? Que os jovens estão sim, utilizando essas ferramentas. Que para uma grande maioria deles, essas ferramentas estão inseridas no cotidiano, como parte de suas atividades.
É isso que eu quero apontar quando digo que as redes já estão na sociedade e que as escolas precisam também inserir-se nelas. Embora muitas vezes as escolas não tenham equipamentos e os professores não tenham como utilizar essas ferramentas em aula, os alunos continuam utilizando-as. E há muito que precisa ser discutido e debatido a respeito delas também no ambiente escolar. É preciso trazer as redes para as escolas.
Como trazer as redes para as escolas?
Sabemos que existem problemas de todos os tipos, principalmente falta de equipamento e acesso e também a questão do preconceito. Mesmo com esses problemas, acho que há iniciativas que podem ser levadas adiante.
Minha primeira sugestão é um trabalho de conscientização e crítica das potencialidades e dos problemas . Fazer palestras, discutir, trazer pais, alunos e funcionários para o debate. É preciso superar o preconceito, que muitas vezes impera, que essas ferramentas não são necessárias e não importam. Assuntos como fronteiras entre o público e o privado, impactos dos rastros deixados nessas mídias no futuro, uso dessas ferramentas podem ser abordados através de palestras e cursos, além de rudimentos da pesquisa e discussão da veracidade do que se encontra online.
Minha segunda sugestão é que a escola entre na rede. É preciso estar nessas ferramentas, construir uma presença institucional, representar a escola, proporcionar meios de contato e mesmo, meios de informação. Mesmo sem laboratórios e equipamentos, um pouco de presença se pode atingir e um mínimo de informações para a comunidade a respeito do que está sendo desenvolvido nas escolas.
Apenas essas duas estratégias já ajudam muito. Primeiro porque marcam uma consciência da Escola para com o cotidiano dos alunos e da comunidade. E em nenhuma delas é preciso que todos tenham laboratórios, mas é preciso que se aborde a questão. Segundo, porque aumentam também a consciência de uso para essas ferramentas, tanto em termos de sala de aula, quanto de trabalhos escolares. Quanto mais pessoas estiverem conscientes da importância dessas práticas nesses sites, mais facilmente se conseguirá apoio para outras iniciativas. Para aquelas escolas que já dispõem de laboratórios e ferramentas, muito mais pode ser feito. Oficias com os alunos, de modo a mostrar o que pode ser feito na rede em termos de criatividade, discussões a respeito da privacidade e dos riscos da exposição e, sobretudo, criar um canal permanente de informações com a comunidade são o mínimo.
Citação: Jeremiah Spence, “Orkut: catalysis for the Brazilian Internaut”
Fonte: http://www.pontomidia.com.br/raquel/
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