terça-feira, 29 de novembro de 2011

Universidade e tecnologia de mãos dadas

As instituições de ensino superior precisam evoluir junto com as novas mídias e aplicativos para não se tornarem sombras de si próprias nessa Era Digital.

Por João Francisco Justo Filho

A universidade é o espaço coletivo de elaboração, reflexão, debate e disseminação do conhecimento. É o palco de racionalização das grandes questões da humanidade em todas as suas expressões temáticas, das cientificas às tecnológicas. E um dos principais pilares que sustenta a singularidade desse espaço é a interação colaborativa, a troca de conhecimento e experiências, entre os seus diversos atores: professores, alunos e pesquisadores. É essa combinação única de elementos conflitivos que permeia as manifestações criativas na universidade.

As tecnologias digitais, desenvolvidas nas duas últimas décadas, promoveram uma revolução na sociedade, principalmente na maneira como as pessoas interagem entre si. Desta forma, essas tecnologias podem ser incorporadas na universidade em todas as suas dimensões de construção do conhecimento, de ensino, pesquisa e extensão. As novas ferramentas digitais apresentam uma extensa lista de oportunidades, como cursos não presenciais, materiais pedagógicos virtuais, acesso a bibliotecas online, bancos de dados compartilhados, interação por teleconferência, blogs e grupos de discussão. É possível, assim, vislumbrar uma trajetória de universalização do ensino superior, ingrediente essencial para o desenvolvimento de qualquer nação.

Esses novos recursos parecem servir como um elemento facilitador na difusão do conhecimento dentro da universidade, o que, em princípio, poderia aumentar a interatividade entre os diversos atores e, portanto, solidificar a instituição. Entretanto, é premente um amplo debate sobre como as novas tecnologias serão inseridas no ambiente acadêmico, uma vez que, em muitos casos, elas podem acabar comprometendo a interação efetiva entre os seus diversos atores. Um caso que merece especial atenção é o distanciamento dos estudantes do ambiente acadêmico.

A audiência dos estudantes nas salas de aula diminuiu consideravelmente, viraram atores virtuais, invisíveis para a estrutura acadêmica. Agora, eles buscam na internet as fontes de referência dos conteúdos programáticos das disciplinas, ignorando as oportunidades de debate e reflexão em sala de aula. Para essa nova geração de estudantes, as aulas expositivas se tornaram desinteressantes e sua presença nesse ambiente acaba se limitando aos eventos protocolares: exames e tarefas extraclasse. Mas seria produtivo esse descolamento do ambiente acadêmico, mantendo um vínculo primordialmente virtual com a universidade?

Entender esse fenômeno e procurar novos mecanismos, para que os estudantes possam explorar o ambiente acadêmico em sua plenitude, estão entre os principais desafios da universidade deste século, e as novas ferramentas digitais deverão ser inseridas nesse contexto.

O primeiro passo será entender as funcionalidades das novas mídias interativas e as consequências de seu uso nas relações sociais. Ao introduzir novas ferramentas de ensino, as antigas aulas expositivas devem se transformar em eventos de discussão, onde a participação de todos os atores será fundamental, pois não há comunicação sem todas as partes envolvidas.

A universidade é o palco onde ocorre a emancipação do estudante, onde é possível lapidar vocações, formar empreendedores do conhecimento, moldar cidadãos conscientes de suas responsabilidades socioambientais. Focar somente nos aspectos técnicos do ensino significa se restringir a um subconjunto do processo educacional.

O egresso deve ter a habilidade de interferir no conhecimento estabelecido, desenvolver novas soluções e aplicá-las de forma responsável para o bem estar da sociedade. Todos esses elementos formadores somente se tornam realidade se envolverem o estudante junto ao ambiente acadêmico.

Nesse contexto de conectividade, o educador deve assumir um novo papel no processo educacional, deve atuar como o mediador do conhecimento, não mais como o provedor do conhecimento. Aquela informação adquirida na universidade, dentro de um modelo antigo de formação, tem vida curta no dinâmico e sofisticado mercado de trabalho. Hoje, somente o profissional pleno é capaz de sobreviver nesse mercado, e para isso deve se ajustar aos rápidos avanços em sua área. Se o indivíduo perder a oportunidade de assumir um papel de ator principal do conhecimento, dentro de sua trajetória estudantil, sua inserção profissional será muito mais difícil.

A universidade é primordialmente um espaço de criação e reflexão. Se abdicar desses dois elementos, a universidade se limita a uma biblioteca, somente um espaço de disseminação de um conhecimento já estabelecido e arquivado. Como Piaget enunciou: “A principal meta da educação é criar homens que sejam capazes de fazer coisas novas, não simplesmente repetir o que outras gerações já fizeram”.

A universidade deve estar atenta às novas tecnologias digitais, e discutir suas metodologias e práticas educacionais para atender às demandas dessa nova geração de estudantes. Não pode mais viver sob o modelo antigo, sob o risco de virar virtual e invisível para a sociedade. As novas tecnologias devem ser exploradas para servir como meios de construção do conhecimento, e não somente para a sua difusão. A universidade foi um dos mais importantes agentes no desenvolvimento das tecnologias que culminaram com essa revolução digital, não pode agora ser ela vítima do uso inapropriado dessas tecnologias. [Webinsider]

Fonte: http://webinsider.uol.com.br/2011/11/25/universidade-e-tecnologia-de-maos-dadas/

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